postado em 08/06/2015 09:15
Sem parede, ele se soltou para ir atrás do que é seu e trouxe para casa. O projeto não é dele sozinho, mas não tem mais coletivos numerosos como os do Monobloco. Um disco novo no qual o título diz quase tudo: Aposto. Pedro Luis buscou as músicas que compôs para outros artistas, gravou na voz dele e aposta com o público se ele sabe que estas canções começaram com ele.No DVD, se juntou a figuras conhecidas como Martinho da Vila, Mart;nália e Zélia Duncan, mas também abriu espaço a revelações como Bruna Caram e Duda Brack. Em entrevista ao Correio, Pedro Luis fala de novos artistas como ela, do carinho e admiração que sente por Brasília, além da importância de que a música expresse o momento atual dramático do país.O que representou esse desafio de dar a própria voz às suas composições marcadas na interpretação de outros músicos conhecidos?
Tive essa experiência em algumas cidades do interior de não saberem que algumas músicas famosas eram minhas. Vi essa surpresa na fala e no olhar de algumas pessoas. Tenho sorte dos intérpretes terem colocado a marca deles na música. Isso é interessante e importante porque as pessoas identificam a elas muito pelos intérpretes. Mas e esse desafio de se apropriar das músicas que começaram comigo? É a volta pra casa. Tenho que tratar bem, cuidar delas bem, fazer uma versão com minha cara, minha assinatura. Mas gosto do resultado e do desafio.
O que tirou de cada uma das parcerias e porque escolheu estes artistas, como a brasiliense Zélia Duncan?
São participações especiais, é importante sempre aproximar pessoas, referências suas nas canções. Tentei compor um mosaico que compreendesse as diversidades. A Zélia é parceira minha de cnações e projetos, eu a admiro muito pela carreira dela. Ela acaba se apropriando da canção e isso é a melhor coisa do mundo pra uma composição. Ela chegou pra fazer bonito. Com o Martinho da Vila tenho admiração incrível. Mart;nalia é parceira contemporânea, eles dois são de uma mesma linhagem, mas de manifestações diferentes. Já a Bruna e a Duda são uma preciosidade da nova geração de cantoras brasileiras. Chegaram com personalidade e quis chamá-las pra dar um frescor ao xote que tinha feito há algum tempo (Véu de filó). Tentar contemplar coisas que me instigam e que eu admiro engrandeceram esse coletivo.
Em Miséria S.A. e Braseiro, vocês faz críticas sociais. Acha importante que elas estejam presentes na voz de artistas brasileiros, especialmente nesse momento repleto de denúncias de corrupção?
Acho importante. A criação no meu caso se manifesta nesse viés, mas não acho que tenha que ser de qualquer compositor. É gosto meu e aporte da minha obra que passa por aí porque tenho esse olhar social e na política da convivência. Eu gosto de falar disso. Mas não me sinto obrigado. Faço o que me der na telha. Tenho outras músicas que carregam um pouco desse olhar que é da crítica, observador sobre os mecanismos de convivência social, olhando, apontando. Isso é um ingrediente.
Há uma mudança no olhar da juventude sobre o Brasil?
Vem acontecendo de 2013 pra cá uma coisa interessante que acho que é, não uma obrigação, mas uma característica da força da juventude, que você tem nos anos mais vigorosos, e é muito importante que tenha acontecido, É importante que essa potência da juventude se mantenha viva e acesa. Ela provoca mudanças, levanta questionamentos e traz ânimo para gerações desanimadas, que acham que nada muda. Mas as coisas mudam, e as mudanças são necessárias para conseguir melhor convivência nos centros urbanos, onde as coisas são mais complicadas. Isso é uma coisa bacana, quem se sentir à vontade para falar disso e conseguir um bom resultado, que faça. É importante que esteja falando, chamando atenção. A música ajuda a trazer as pessoas para refletir, pensar junto, mas não é uma obrigação.
Você é um artista com presença quase constante em Brasília, tanto com o Monobloco quanto com a Parede. O que acha do cenário musical atual daqui? Acompanha a revelação de novos músicos brasilienses?
Há muitos anos, Brasília tem um cenário interessante, desde os anos 1970 e 1980, com rock e outras músicas, a partir das bandas, sejam locais ou residentes. Já vi tanta coisa interessante dessa cidade, das mais diversas ondas. Brasília tem uma coisa parecida um pouco com o Rio: uma casa de todo mundo do Brasil e resulta numa miscigenação interessante antropológica e, consequentemente, artística.
Aqui temos uma Lei do Silêncio que limita as apresentações dos músicos em bares e outros locais de grande circulação. Acha que isso pode prejudicar o surgimento de novos artistas?
Pode prejudicar sim. Até compartilhei um vídeo na internet com o medidor dos decibéis. É um pouco hipócrita isso, um cerceamento de uma possibilidade, ou é uma regra proposta por alguém que nao gosta de música (risos), porque o trânsito produz ruídos superiores ao previsto nessa lei e isso não é combatido. Acho lamentável que em um lugar com possibilidade de manifestação de coisas importantes como novos artistas, com música de qualidade e diversidade, sejam vítimas de uma regra perigosa como essa.
Ao que você atribui tanto sucesso com o público brasiliense no carnaval?
Monobloco é bem recebido na cidade durante o ano todo. Isso vem de carnavais de muitos anos, e acho bacaníssimo. Várias outras manifestações que vem para Brasília ajudaram a despertar um negócio que já existia aqui no Rio: o carnaval brasiliense está ficando forte. Muito bacana que o Monobloco e outros grupos do Brasil tenham ajudado a contribuir de alguma maneira para pessoas que sentem como se fosse uma força, tanto para tradição quanto para a invenção de coisas contemporâneas nessa atmosfera carnavalesca.