Diversão e Arte

Bailarino brasileiro é selecionado para integrar Escola Bolshoi de Moscou

O fluminense David Motta está entre os sete selecionados para integrar uma das maiores companhias de dança do mundo. Agora, ele faz parte do corpo de baile da instituição

Nahima Maciel
postado em 11/06/2015 10:00
Foram a leveza e o sentimento contidos nos passos do balé clássico que encantaram o fluminense David Motta. Primeiro brasileiro a se formar na escola do Teatro Bolshoi, em Moscou, o bailarino de 18 anos percorreu um caminho improvável e cheio de obstáculos, mas pontuado por êxitos que o alçaram a uma das mais renomadas companhias de dança do mundo. Este ano, após terminar a formação na escola, David foi um dos sete selecionados em um concurso para integrar o corpo de baile do Teatro Bolshoi. Agora, com contrato de trabalho e como bailarino profissional, ele vai subir ao palco do velho teatro russo para dançar os balés mais importantes do repertório. Sob a direção de Serguei Fillin, diretor do Bolshoi, o brasileiro sobe ao palco a partir de setembro para dançar a próxima temporada do balé. A partir da semana que vem, ele dá início ao estágio preparatório da companhia.

David Motta dança, na próxima temporada do Bolshoi, as coreografias mais importantes do repertório

O encanto de David pelo balé começa em Cabo Frio, há 9 anos, quando foi acompanhar uma prima em uma aula de balé em um projeto social idealizado por Ophélia Corvello. ;Eu me apaixonei pela dança;, lembra. Na época com 9 anos, ele começou a fazer aulas, mas precisou enfrentar o pai, que não enxergava na dança nem uma profissão, nem uma atividade para meninos. Sem recursos, a família não tinha condições de bancar o sonho de David. Foi graças a Regina Corvello, filha de Ophélia, que ele pôde continuar a dançar. Bailarina e professora, Regina trouxe David para Brasília. Em menos de seis meses, o rapaz, na época com 12 anos, ganhou o Youth American Grand Prix Brasil, uma competição que reune jovens bailarinos de todo o país. David deveria viajar a Nova York para a final do concurso, mas não conseguiu o visto para os Estados Unidos.

No entanto, olheiros do Bolshoi viram o vídeo do rapaz e o convidaram para um curso de verão em Nova York. Daí em diante, o mergulho no mundo do balé foi automático. Em meados de 2010, aos 13 anos, sozinho e sem saber uma palavra de russo, estava instalado em Moscou, matriculado na escola do Bolshoi e numa escola primária. ;Hoje, eu nem acredito;, diz. O curso na Rússia não oferecia bolsa e a anuidade da escola custava 18 mil euros. Graças a duas matérias publicadas no Correio entre 2008 e 2010 e ao apoio financeiro e psicológico de Regina, Daviddd conseguiu doações para viajar e estudar durante o primeiro ano. Os três anos seguintes contaram com o apoio do Ministério das Relações Exteriores.

Para sobreviver, foco na dança

Disciplina e resistência são ingredientes básicos do balé. A competição, um de seus temperos que, em excesso, pode fazer a mistura desandar. David diz que teve sorte até agora. Nem o fato de ser estrangeiro acirrou as disputas em sua turma, mas ele sabe que, no mundo profissional, a competitividade pode ser cruel. ;Na minha turma, somos todos bem unidos, mas a gente percebe isso em outras turmas, essa coisa da inveja. Para sobreviver, o negócio é focar na dança, porque é no palco que mostramos quem realmente somos;, conta o rapaz, escolhido solista das apresentações anuais da escola nos dois últimos anos. ;Ele tem um talento nato e muita disciplina;, conta Regina, orgulhosa de saber que David tem sido reconhecido na rua por conta de suas apresentações. ;Bailarino, na Rússia, é elite. Não é que nem aqui;, diz.

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