Esqueça a relação entre palavra, narrativa e imagem. Os livros de artista não são monografias, não contam uma história sobre um sujeito ou uma obra, eles são a própria obra, mas em boa parte da história da arte acabaram por se tornar objetos misteriosos, relegados a ateliês, círculos de entendidos e acervos de colecionadores. São objetos únicos ou com tiragens limitadas, fruto e resumo de muito tempo de construção da obra e difíceis de serem reproduzidos, mas, sempre acalentados pela maioria dos artistas. Na última terça-feira, Ralph Gehre levou para casa o seu livro de exemplar único que é o centro da exposição Coisas impossíveis são possíveis, em cartaz na Referência Galeria. A intenção era limpar o objeto, que, durante a primeira semana de exposição, foi bastante folheado e manuseado.
Ralph estava um pouco preocupado com o destino da obra na mão dos visitantes, mas se conteve, limpou o livro e levou de volta. ;Para mim, ele é o processo de trabalho, o local de depósito e organização do pensamento, que se organiza a partir do folhear das páginas;, conta o artista, que transformou em publicação com tiragem limitada uma de suas cadernetas, intitulada Caderneta, durante a exposição O que eu faço quando não estou fazendo nada, no ano passado. ;A Caderneta foi editada porque ganhou uma prontidão, uma qualidade linear que a acompanhava, mas não foi um plano preliminar;, conta o artista. O livro exposto na Referência, ao contrário, nasceu para ser folheado. Ali, há fragmentos de várias cadernetas de anotações.
[SAIBAMAIS]Como parte da exposição Doces Laranjais, inaugurada ontem na Alfinete Galeria, o artista Renato Rios também lança um pequeno livro, o primeiro de um projeto de publicar trechos de várias cadernetas de trabalho. Editado em formato de sanfona, O esticador de horizonte reúne três grupos de sete paisagens em miniatura semelhantes às pinturas expostas. Com uma tiragem de 90 exemplares assinados pelo artista, os livretos são uma forma diferente de se relacionar com a obra. ;Acho bacana esTe movimento do colecionismo de trabalhar com múltiplos e transformar o trabalho em algo afetivo;, diz o artista. ;Acho importante essa espécie de publicação, tem mais cópias, democratiza.;
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