Nahima Maciel
postado em 01/07/2015 07:30
A história de um brinquedo começa com seu dono. Não necessariamente aquele que o constrói, mas aquele que o recebe e será, a partir de então, o responsável por inventar a história do objeto. Ao ser recebido, o brinquedo ganha vida e propósito. Passa a ser personagem de uma narrativa mágica que encontra abrigo na fantasia de quem narra. Essa ideia sempre fascinou Sálua Chequer, dona das 1.028 peças expostas em Brinquedos à mão, na Caixa Cultural. Recolhidos durante viagens a cidades do Nordeste nos últimos 30 anos e fruto de um interesse que originou um mestrado, os brinquedos fascinam também os adultos, especialmente quando reconhecem nas peças objetos da própria infância. Bonecas de pano, carrinhos de madeira, casinhas de boneca, fantoches, marionetes, móbiles, piões, pipas, cobrinhas de madeira e outros bichos, panelinhas de barro, cestarias e outros objetos tão criativos quanto as mentes das crianças.
A advogada Maria de Fátima Dias, 60 anos, nem lembrava mais a época em que brincava com bonequinhas de pano. Na semana passada, ela levou a neta Aline, 7, para visitar a exposição. A menina preferiu se divertir na parte interativa do espaço, enquanto a avó descobria, maravilhada, cenas de sua própria infância. ;É tudo da minha época;, contou. ;Tinha essas bonequinhas que nem lembrava mais. Tinha marionetes também. A gente não vê mais essas coisas feitas à mão. E são coisas de valor, a pessoa leva tempo para fazer. Hoje, não se dá valor, se vai numa loja e se compra tudo, e vem tudo andando, falando.;
Restos de madeira
É realmente difícil concorrer com os brinquedos comercializados pela indústria. A tecnologia é capaz de implantar um sem número de luzes, vozes, piruetas e movimentos em todo tipo de objeto. O aproveitamento de materiais e a criatividade são as características mais marcantes da coleção de Sálua. Essa capacidade de criar a partir do inusitado acaba transferida para o brinquedo e para a criança que o manuseia. A pedagoga Ana Maria Teixeira, 63 anos, ficou encantada com a exposição e lembrou que, muitas vezes, as crianças participam até da elaboração desse tipo de brinquedo. ;Eles dão uma amplitude de respostas à criança. São importantes para não ficar só na frente do computador;, repara. ;E esses brinquedos incentivam contar histórias, há uma interação maior com a criança. Hoje, tudo já vem com história, os jogos de hoje são muito prontos.;
[SAIBAMAIS]A bibliotecária Maria Aparecida, irmã de Ana Maria, mergulhou nas lembranças ao ver as casinhas de boneca mobiliadas com móveis feitos de caixas de fósforo, restos de madeira e até de garrafa pet. ;É muito bonitinho, eu brincava com isso, juntava os cacarecos todos e brincava de feira;, lembra. Mas foi com uma boneca de pano que a bibliotecária mais se emocionou. A lembrança não é exatamente da infância, mas dos tempos em que trabalhava em uma escola primária. Havia um livro, ela conta, cuja personagem era uma bonequinha negra de pano que era reproduzida com perfeição pela mãe de um aluno. Exposta em uma mala que abriga outras dezenas de bonecas, Maria Aparecida encontrou a personagem. ;É igualzinha;, constatou.
Brinquedos à mão
Exposição com 900 brinquedos. Visitação até 23 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural (SBS Qd 4, Lote 3/4).
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.