Diversão e Arte

No Dia Mundial do Rock, Correio analisa a trajetória do gênero

Acompanhe o percurso do gênero musical que dominou a cena cultural jovem no Brasil e em Brasília, durante a década de 1980

Adriana Izel
Rebeca Oliveira
postado em 13/07/2015 07:30 / atualizado em 19/10/2020 13:13

O grupo brasiliense Dona Cislene percebe um retorno do  interesse do público

Teorias sobre a morte do rock nacional ressurgem ano a ano. O estilo  resiste, ainda que tenha passado os últimos tempos na UTI. Segundo levantamento da Associação Brasileira dos Produtores de Disco (ABPD), passaram-se 20 anos desde que uma banda nacional ficou em primeiro lugar na lista de discos mais vendidos, feito alcançado pelos Mamonas Assassinas em 1995.


Nas rádios, a situação não é muito diferente. No meio – ainda o preferido por cerca de 76,4% brasileiros na hora de consumir música, segundo a Opinion Box – os riffs de guitarra andam cada vez mais ausentes, deixando vago um espaço hoje ocupado por outros gêneros, como a música sertaneja. Segundo levantamento da empresa Crowley/ Music Media, das 100 músicas mais tocadas nas rádios do Brasil no ano passado, apenas uma era uma canção de rock. Ela me deixou, do Skank, em 93º lugar, foi a única representante de um estilo que, na década de 1980, ocupava mais posições e com mais larga vantagem. A primeira posição é de Marcos & Belutti com Domingo de manhã.

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Para Pedro Turbay, baixista da banda brasiliense Marssal, o cenário candango é semelhante ao do restante do país. O enfraquecimento, em sua opinião, se deve a vários fatores, mas o principal deles é o desinteresse da indústria fonográfica, que não concede o mesmo espaço ao rock como fez nos tempos áureos de bandas como a Legião Urbana. “As pessoas querem algo de fácil digestão. Outro grande problema é a falta de público. Quando faço show com uma banda cover, coloco 150 pessoas em uma casa de shows. Com um grupo autoral, esse número se reduz pela metade. Isso é desanimador”, reclama.

Com um rock atual, mas que flerta com os anos 1960 e 1970, a Marssal voltou à ativa neste ano após algum tempo em hiato. Uma prova de que ainda acreditam no poder do estilo de se reinventar. “Falta uma união da cena e das bandas locais, uma divulgação grande, não só de internet ”, afirma.

Ainda vive

Apesar disso, o estilo musical ficou na segunda posição dos mais ouvidos do serviço de streaming Spotify. De acordo com dados da empresa no Brasil, o rock perde apenas para o pop. A lista dos 20 gêneros mais ouvidos tem ainda pop rock, em quarto lugar; indie rock, em oitavo; e rock alternativo, na 20ª posição.


Há quem defenda que o rock ainda tem uma cena forte no Brasil, com ajuda de pequenas iniciativas de agências e de novos grupos. “Uma coisa que gosto na cena do rock nacional é justamente a determinação de continuar fazendo rock acima de tudo, mesmo sem expectativa de sucesso e com a incerteza de atingir o mercado. Existem duas frentes que mantém o rock vivo no Brasil: os selos e as agências, que estão tentando construir um mercado paralelo, e as bandas determinadas a chegar ao grande público”, afirma Guilherme Guedes, especialista em música, apresentador de tevê e responsável pelo site Tenho mais discos que amigos!.


Guedes acredita que o rock está vivendo uma fase de transição influenciada pela convivência com a internet, que agora tem conquistado uma maturidade. “O mercado fonográfico no Brasil ainda é frágil e depende muito lá de fora. Estava todo mundo receoso de arriscar, até que chegaram bandas como Scalene e Supercombo, determinadas a fazer o rock se tornar comercial”, completa.


Vocalista da banda O Terno, Tim Bernardes não aceita a tese de que o estilo esteja perto do fim, mas que encontrou outras válvulas de escape que passam longe das grandes rádios e de discos físicos. “Ele não está morrendo ou precisa ser salvo, mas mudou de cenário. Hoje em dia, com a internet, bandas incríveis e interessantes podem atingir um público grande, tocar para muita gente pelo Brasil afora e se sustentar sem nunca ter que constar entre as mais tocadas da FM ou os discos mais vendidos”, afirma.

“Vejo um momento de ascendência, como a presença das bandas de rock no programa Superstar. Percebo um interesse maior do público, que está voltando a curtir. Isso não acontecia, por exemplo, há três anos quando lançamos a Dona Cislene. Acho que a internet ajudou bastante”, comenta o guitarrista Guilherme de Bem, do grupo brasiliense Dona Cislene, formado em 2009 e que tem ainda Bruno Alpino (vocal e guitarra), Pedro Piauí (baixo) e Paulo Sampaio (bateria).

Guilherme de Bem acredita que o rock está passando por uma mudança e voltando a conquistar o público, entre 15 a 50 anos. “Ainda não é como nos anos 1980, mas eu entendo que é um processo mais devagar. O importante é que esse retorno esteja acontecendo”, comenta o guitarrista. Ele cita as renovações das bandas antigas como um modo de trazer o público para o terreno do rock. “Raimundos e Capital Inicial estão se renovando. E o rock é um gênero que consegue misturar outras vertentes, como metal, reggae, pop e indie”, completa.

Últimos suspiros?


Iniciativas para aquecer o movimento na capital não cessam, embora os mais céticos não acreditem que o rock poderá voltar a respirar sem a ajuda de aparelhos. Se não há casas de show disponíveis, projetos como o Vai Tomar no Cover tomam – literalmente – as ruas da cidade com som autoral de novos grupos.

“Alguns produtores de outros estilos sonoros juntaram a qualidade do som com boa assessoria, e acabaram pegando o espaço que o rock autoral deveria ocupar. Vários eventos focados em bandas covers surgiram. Eventos bem organizados, com bandas que tocavam semelhante a original. Era a fórmula da diversão garantida, não tinha muito segredo”, explica Israel Lara, ou Tynkato, que toca nas bandas Lista de Lily e The EgoRaptors.

“A música organizada, comprometida, com muita disposição para trabalhar e que tenham um significado para cena artística da cidade pode trazer o rock de volta. Hoje em dia talento não é mais o bastante, quem trabalha mais, toca mais”, acredita o produtor. 

» As novas bandas

Scalene
A banda brasiliense criada em 2009 é formada por Tomás Bertoni, Gustavo Bertoni, Philipe Conde e Lucas Furtado. O som é uma mistura de rock melódico com experimental. Possuem três discos: Cromático (2012), Real/Surreal (2013) e Éter (2015).

Supercombo
Fundado em 2006 em Vitória (ES), o grupo se define como uma banda de rock influências de MPB, jazz e música eletrônica. Eles possuem três CDs e um EP já lançados. Sob o comando de Léo Ramos, a banda ainda tem Carol Navarro, Pedro Ramos, Raul de Paula e Paulo Vaz.

Far From Alaska
Lançada há três anos em Natal (RN), a banda une rock alternativo e hard rock. Ao todo, o grupo, composto por Emmily Barreto, Cris Botarelli, Rafael Brasil, Edu Filgueira e Lauro Kirsch, tem um álbum de estúdio, modeHuman (2014), e um EP, Stereochrome (2012), já lançados.


Medulla
A banda carioca de rock foi criada em 2005 e, desde então, lançou seis álbuns: O fim da trégua, Akira, Talking the machine, Capital erótico, O homem bom e MVMT. O grupo é formado por seis integrantes Keops e Raony, que dividem os vocais, Dudu Valle, Alan Lopez, Daniel Martins e Rodrigo da Silva.

 

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