postado em 02/08/2015 07:32
Difícil definir o ofício pelo qual o paranaense Mauricio Witczak conquistou Brasília. Movido desde cedo pela poesia, o artista alterna entre a escrita, as telas, os palcos. De alguma forma, tornou-se um agitador cultural da capital por meio das obras dramaturgas, dos filmes lançados, os poemas declamados e os livros publicados. Na esfera do cinema, tornou-se curador de uma mostra permanente de longas e curtas-metragens, geralmente produzidos no Distrito Federal, dando visibilidade aos cineastas locais. A conversa traz um artista otimista e vibrante com o panorama brasiliense, apesar da crise que assola o quadro cultural, com espaços fechados e recursos limitados. Basta vontade em realizar. E ele tem de sobra.
Pode nos relembrar sua trajetória e construção enquanto artista?
Sou ator profissional. Bacharel e licenciado em artes cênicas, pela faculdade de artes Dulcina de Moraes, mas minha relação inicial com a arte foi através da literatura. Comecei a escrever versos muito antes de me tornar ator. O caminho natural foi a poesia me conduzir à dramaturgia, que, por sua vez, também influenciou no estilo narrativo dos meus poemas. Um perfeito encontro desses dois gêneros. Publiquei um livro de poesias, Janelas, e estou em processo de publicação do segundo, chamado É tudo o que trago nos bolsos, que reúne poemas criados nos últimos 10 anos. No campo da dramaturgia, sinto-me honrado de ter lançado o livro Comédias, dramas e absurdos do amor ; Em seis peças teatrais. Dos 30 textos teatrais já escritos, tive o privilégio de ver 12 sendo levados aos palcos. Hoje em dia, passeio entre as linguagens e desenvolvo bastante a dramaturgia e a criação de roteiros pra cinema, mas a poesia continua sendo o prazer supremo da minha lida de escritor.
[SAIBAMAIS]
Como se deu esta transição entre os palcos e as telas? Há uma preferência entre eles?
Depois de várias experiências teatrais, percebi a necessidade de viver novos desafios como ator. O cinema, de fato, desperta grande paixão nos atores por ser uma linguagem repleta de sutilezas nas interpretações. De uns 10 anos pra cá, atuei em vários curtas e longas-metragens e ainda tenho muito caminho a percorrer. Estar no palco é um prazer indescritível e o set de cinema, com tantos profissionais nos bastidores e essa confluência de imagem, som e interpretação, é fascinante. São paixões distintas, mas ambas fundamentais para o crescimento do ator.
Como artista de teatro, como reage à cena atual em termos da produção e dos espaços culturais?
Essa forte tendência de retomar o teatro de grupos me agrada muito, porque acredito no processo colaborativo. Em Brasília, vemos nitidamente os artistas de teatro tentando se fortalecer a partir da formação de grupos e o desenvolvimento de coletivos. Se falamos da velha crise do teatro relacionada à falta de patrocínios e diminuição de público, com certeza temos que considerar que essa é uma crise nacional e a profissionalização das companhias teatrais é fundamental na hora de repensar estratégias de produção. Com relação aos espaços, considero imprescindível que os artistas locais tenham acesso às ocupações de teatros como o CCBB e o Teatro da Caixa, por exemplo, que atraem público com baixo custo de ingresso e espetáculos de qualidade. Acredito que, para contemplar mais artistas brasilienses, outros espaços culturais poderiam ser revitalizados e seguir esse mesmo modelo.