Falar em empoderamento feminino e em fim do preconceito contra homossexuais no continente africano exige, no mínimo, destemor e intrepidez. Em Uganda e na Nigéria, por lei, é proibido ser homossexual. O preconceito invade até nações mais desenvolvidas, como a África do Sul, que tem uma das legislações mais brandas do mundo e foi o quinto país do planeta a legalizar o casamento gay, à frente de locais como o Brasil. O abismo entre o cumprimento da legislação que pune a discriminação e o cotidiano de lésbicas negras choca principalmente quem cresceu em meio às dicotomias sul-africanas, como a fotógrafa Zanele Muholi.
Homossexual assumida, Muholi se considera mais uma ativista social do que uma fotógrafa. Seus trabalhos são explícitos e de confronto ao patriarcado. Em uma das séries mais premiadas, Faces e fases, Zanele reivindica igualdade. ;São muitos os nossos desafios. O primeiro é conquistar direitos iguais para todos dentro da comunidade LGBT e interromper padrões heteronormativos. Desde pequenas somos obrigadas e internalizar nossos desejos, esquecendo-nos que os corpos se conectam, e que a sexualidade ultrapassa esses conceitos ultrapassados de gênero;, comenta a artista, em conversa por e-mail com o Correio.
Mulheres negras e transgêneros são o centro dos retratos, em sua maioria na profundidade dos tons em preto e branco. ;Até então, não haviam fotos íntimas e amorosas de lésbicas negras;, conta Zanele, nascida no mesmo país que grandes nomes da fotografia, como David Goldblatt, conhecido pelo olhar crítico em relação ao apartheid. As imagens, aliás, já estiveram em cartaz numa mostra em São Paulo, há dois anos.
Grupo de risco
O amor, riso e alegria que tenta registrar em fotografias contrastam com a realidade de violência, do avanço da Aids, dos crimes de ódio, da pobreza e do desemprego que ainda afligem as mulheres da nação de Nelson Mandela. ;Os pesquisadores tendem a achar que não somos um grupo de risco da Aids, por exemplo. Mas se esquecem que nossas irmãs são estupradas, isso quando não são mortas, algo que acontece com mais frequência do que se pode imaginar;, lamenta.
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