O gosto acre não perturbou Liana Sabo. A futura repórter de gastronomia mais importante de Brasília estava tendo um batismo de fogo. Não se coziam delícias, preparava-se o início do período mais sanguinário da ditadura. Naquele 28 de março de 1968, o regime de exceção matou o estudante paraense Edson Luis durante manifestação no Calabouço, o restaurante universitário da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio. Um porteiro que passava pelo local também foi morto e outras quatro pessoas ficaram feridas.
A gaúcha Liana Sabo estava chegando a Brasília e ao Correio Braziliense. Novata, acompanhou o nervosismo da redação diante do que poderia acontecer caso os estudantes da Universidade de Brasília (UnB), reunidos em assembleia, resolvessem ocupar o Plano Piloto para protestar contra a morte de Edson Luis. Os manifestantes desceram para a W3 Sul e foram recebidos por uma barricada militar.
A coordenação de reportagem já havia mandado uma, duas, três duplas de repórter e fotógrafo para a cobertura. Havia o medo de que houvesse nova tragédia. Sobrou a foquinha, como chamam os jornalistas iniciantes, de 1,73m, cabelos extralouros e olhos meio verdes, meio dourados. Lá se foi Liana para o front de reportagem. A barreira de policiais havia sitiado os estudantes. E também impedia o acesso dos repórteres. A gaúcha de Ijuí, neta de alemães, russa e húngara, avançou na direção dos militares. Até que um deles levantou o braço e gritou: ;Daqui você não pode passar;, ao que a militante do jornalismo respondeu com altivez germânica: ;Estou trabalhando tanto quanto você;. Bem mais alta, abaixou o braço do policial e seguiu adiante em seu confronto pessoal com o regime militar.
Não se sabe se o destemor, o 1,73m, a beleza, ou tudo junto, o fato é que Liana Sabo atravessou a trincheira militar e chegou aos estudantes. De volta à redação, era sua a vaga de repórter. E se havia enfrentado, corpo a corpo, a ditadura, que fosse cobrir o Palácio do Planalto, à época ocupado pelo general Artur da Costa e Silva.
Uma justa reverência
Hoje e amanhã, Brasília reúne-se à mesa no 27; Congresso da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), no Iesb da 613/614 Sul. Lugar e evento perfeitos para uma homenagem à titular da coluna Favas Contadas. A mostra Contando Favas ; 17 anos da crônica gastronômica de Liana Sabo no Correio Braziliense, apresenta a história da gastronomia em Brasília pelo olhar agudo de uma das profissionais mais respeitadas do jornalismo gastronômico do país. O público poderá conferir a exposição na tenda Vinum Brasilis, dedicada aos produtores de vinhos brasileiros, e participar de um bate-papo com a jornalista, quinta-feira, às 18h30.
;Liana Sabo é um ícone do jornalismo gastronômico do país. Seu trabalho ajuda a contar a história de Brasília nessa área e a dar aos leitores do jornal informações precisas e confiáveis para conhecerem mais sobre o vasto mundo da gastronomia e da boa mesa;, afirma Paulo Cesar Marques, diretor de Comercialização e Marketing do Correio. ;É uma justa homenagem a uma das profissionais mais importantes de nossa sociedade, cuja história de confunde com a da cidade.;
A mostra Contando Favas tem organização e texto de Luiz Alberto Osório, direção de arte de Camillo Righini e imagens e arquivos do Cedoc/Pesquisa/DA Press. Em 13 painéis com imagens de publicações e depoimentos de chefs renomados, a exposição conta a história da evolução da gastronomia praticada em Brasília e do jornalismo gastronômico da capital federal.
O público poderá participar do congresso da Abrasel mediante aquisição de ingressos para cada um dos eventos ou do passaporte, que dá acesso a toda a programação. Assinantes do Correio têm desconto de 50% nos ingressos. Mais informações: www.congressoabrasel.com.br/inscricoes.
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