Diversão e Arte

Aos 74 anos, Erasmo Carlos conversa com o Correio sobre os atuais projetos

Com 54 anos de estrada, o Tremendão mostra que não gosta de viver de saudosismo e do novo DVD ao vivo Meus lados B

José Carlos Vieira
postado em 16/08/2015 07:30

Com 54 anos de estrada, o Tremendão mostra que não gosta de viver de saudosismo e do novo DVD ao vivo Meus lados B

Aos 74 anos de idade e 54 de estrada, Erasmo Carlos não gosta de curtir saudosismo. Vive o presente, o que está produzindo agora. E isso se reflete no acabamento musical do DVD ao vivo Meus lados B. Com uma banda de primeira linha, Erasmo resgata canções prediletas, mas que pouco tocaram em rádio ou só fizeram sucesso na voz de outros artistas. Neste bate-papo informal, o Tremendão fala de Jovem Guarda, do famigerado jabá, da nova vida depois do vício do álcool e também de corrupção. ;Eu ainda acredito no homem.; Com vocês, o meu amigo Erasmo Carlos:

Por que gravar um DVD só com músicas lados B?
Fui convidado para fazer um projeto chamado Inusitados, aqui no Rio, na Cidade das Artes. Nesse projeto, você não podia apresentar o seu show tradicional. Vários artistas participaram, todos com outros modelos de show. Na pressão de ter de fazer alguma coisa diferente, lembrei-me dos meus lados B ; são músicas da época dos vinis, que tinham lado A e lado B. O A tocava no rádio, virava sucesso, e o lado B não. Nos meus 54 anos de estrada, tenho vários lados B. São músicas belíssimas, que ficaram desconhecidas... Resolvi ampliar meu projeto com outras canções, como sambas, que normalmente não canto. Incluí também músicas que até foram sucesso na voz de outros cantores, mas que gravei primeiro. Há, também, canções que foram censuradas. Selecionei um repertório dos meus discos antigos, consultei meus amigos, e também incluí músicas que pedem muito nos shows que faço. Apresentei o show e foi um sucesso, legal pra caramba. Aí, meu filho Léo Esteves disse: ;Pai, temos que registrar isso em DVD, porque é um momento histórico seu, de resgatar suas músicas que poderiam ter sido sucesso;. Gravamos o DVD no Tom Jazz, em São Paulo, e depois já estreamos o show no Rio e vamos seguir a estrada.

Você agora está sendo cultuado por uma nova geração de músicos, de artistas. É uma referência para essa geração. O que você acha disso?
Fico muito feliz, cara. É uma satisfação ver o meu trabalho reconhecido, principalmente pelas novas gerações. Acho importante você estar em atividade agora, fazendo coisas agora. Estar antenado com a modernidade e tudo mais... Porque, você mostrando seu trabalho de agora, eles passam a gostar de você e vão ouvir o que você fez. Eles assumem o antigo como se fosse novo, porque, pra eles, era desconhecido. Agradeço muito à internet, bicho, por causa disso.

E a trilogia ;sexo, drogas e roquenrou; saiu de moda?
Saiu! Isso é coisa dos anos 1960. Coisa dos Rolling Stones. Pra mim, precisa ter amor no meio. Drogas não fazem parte dessa trilogia pra mim. Já fizeram, mas, hoje em dia é sexo, amor e ronquenrou.

Aos 74 anos de idade, de que você sente saudades, Erasmo? E o que falta você realizar?
Não sinto saudade de nada não, cara. Porque o presente é tão legal pra mim. Vivo feliz com minha família, estou trabalhando pra caramba, fazendo meus discos... Não estou acomodado, vivendo do passado. O que passou, passou. Lembro-me do passado não com saudade, mas com carinho. A Jovem Guarda, por exemplo, guardo no meu coração definitivamente. Nos meus shows, sempre tem o momento Jovem Guarda.

E o que sobrou da Jovem Guarda em seu modo de viver?
Ela sempre me acompanhou, inclusive neste DVD Os meus lados B. Nunca vou deixar de cantar, mas não com saudosismo. Inclusive, a Jovem Guarda está fazendo 50 anos agora.

O jabá atrapalha ou beneficia a música brasileira?
Atrapalha, bicho. Porque ele faz tocar aquilo que a gravadora quer, que nem sempre é o que o artista tem de melhor. Massifica aquilo. É o poder do dinheiro. Às vezes, um artista de valor não toca na rádio, por outro lado, um artista popularesco é tocado à exaustão. Isso é prejudicial para a cultura geral da música.

E o Rock in Rio? O Erasmo de 1995 e o de 2015 mudou muito?
Os anos vão chegando e a maturidade vai fazendo a gente a mudar. Isso se reflete nas músicas que a gente faz, nos shows e tudo mais. Eu, por exemplo, gosto muito mais de mim hoje do que do Erasmo de antigamente. E no Rock in Rio de setembro será assim. Terá um show especial com o pessoal que tocou há 30 anos, uma homenagem aos que participaram do primeiro evento. Vou me apresentar com Samuel Rosa, serão três canções. Depois, no Palco Sunset, vou fazer com o Ultrage a Rigor. Um show de roquenrou puríssimo.

;Fé no homem, fé no que virá!” Você canta esses versos de Gonzaguinha no DVD. Hoje em dia, você tem fé no homem, apesar de tanta corrupção?
Tenho sempre. Senão, não há razão para eu viver. Sou uma pessoa boa, eu, meus filhos. Enquanto existirem pessoas boas, eu tenho fé. Eu acredito no homem. O mundo inteiro pode ser corrupto, mas enquanto tiverem dois ou três bons, eu tenho que acreditar na humanidade.

Confira trechos do DVD Os meus lados B:

[VIDEO1]

A matéria completa está disponível , para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação