Diversão e Arte

Quarteto da trilha de 'Game of Thrones' traz o rock e o erudito a Brasília

Break of Reality toca terça (18/8) ao lado da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, no Teatro Pedro Calmon

Nahima Maciel
postado em 17/08/2015 07:30

Quarteto faz a mistura de sonoridades de maneira leve
A fronteira sagrada entre música clássica e rock não existe para o quarteto Break of Reality. Separar os dois gêneros é excludente e juntá-los sempre pareceu mais produtivo. Ivan Trevino (percussão) e Patrick Laird (violoncelo) cresceram na região de Rochester, no estado de Nova York, e nunca foram radicais: iam de um concerto do Metallica ou do Radiohead ao Eastman School of Music, o conservatório de música clássica. Tocavam Bach e gostavam muito, mas não dispensavam uma guitarra bem dedilhada e uma bateria encorpada. Em 2003, ao lado de Laura Metcalf (violoncelo) e Adrian Daurov (violoncelo) formaram o Break of Reality com o objetivo de quebrar as fronteiras entre os dois gêneros.


O quarteto se apresenta amanhã no Teatro Pedro Calmon ao lado da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro como parte de uma turnê organizada pelo projeto American Music Abroad, do Departamento de Estado dos Estados Unidos. A formação é diferente da original e tem, além de Laird e Trevino, os violoncelistas Meta Weiss e Andrew Janss. No repertório, alguns dos hits dos quatro discos da banda, que já venderam, juntos, mais de 100 mil cópias, e o tema do seriado Game of Thrones (Ramin Djawadi), cuja versão para cello teve mais de oito milhões de visualizações no YouTube.

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Classificada como alt-classical, cello rock e indie-classical, a música do quarteto é uma mistura equilibrada e agradável de sonoridades pesadas com o volume e a técnica da música erudita. ;Acho que o rock e a música clássica compartilham muitas similaridades. Elas podem ser épicas na sonoridade, no volume e na emoção. Ambas podem ser tecnicamente exigentes também. Quando escolhemos fazer o cover de um rock, tentamos encontrar músicas que tenham uma linha melódica forte, que tenham uma melodia vasta e variada;, explica Trevino. ;Como não cantamos e não temos vozes, uma linha melódica forte pode nos ajudar a comunicar a música, mesmo sem palavras.;

SERVIÇO
Apresentação com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional
Claudio Santoro.
Terça (18/8), às 20h, no Teatro Pedro Calmon (Setor Militar Urbano). Entrada franca ; ingressos disponíveis para retirada uma hora antes da apresentação. Disponibilidade de assentos sujeita à capacidade do auditório.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Entrevista com Ivan Trevino, do Break of Reality

Quais são as fronteiras entre o clássico e outros gêneros? Quando vocês decidem misturar tudo, que elementos principais vocês mantêm em mente?


Acho que o rock e a música clássica compartilham muitas similaridades. Elas podem ser épicas na sonoridade, no volume e na emoção. Ambas podem ser tecnicamente exigentes também. QUando escolhemos fazer o cover de um rock, nós tentamos encontrar músicas que tenham uma linha melódica forte, que tenha uma melodia vasta e variada. COmo não cantamos e não temos vozes, uma linha melódica forte pode nos ajudar a comunicar a música, mesmo sem palavras. Lateralus by Tool é um grande exemplo disso e a razão pela qual adoramos tocá-la

É possível categorizar Break of Reality? Como vocês se classificariam?

É uma boa pergunta. Nós sempre temos dificuldade em classificar nossa música porque não é apenas um som. Eu acho sinceramente que ela está no centro do que é a música clássica e o rock. Não acho que tendemos muito para um lado ou outro. Alguns de nossos fãs nos chamam de banda de rock, outros nos chamam de conjunto de câmara. É legal ser considerada uma banda multigêneros e amamos ver a multiplicidade de audiências que isso produz. Nossas audiências são inteiramente misturadas: jovens, velhos, fãs de música clássica, de rock. Temos a sorte de tocar música que reúne vários tipos diferentes de pessoas.

Quais são suas influências?

O rock influenciou várias coisas na nossa performance. Por exemplo, nós não usamos partituras e memorizamos a nossa música, exatamente como faz uma banda de rock. Às vezes, nós improvisamos, ou fazemos jam sessions no palco, que também é comum no mundo do rock e não tanto na música clássica. Os celistas da nossa banda tentam imitar os sons que os guitarristas e vocalistas de rock fazem, mostrando que, às vezes, eles estão criando algo rústico, sons agressivos que não são típicos da música clássica. Ao mesmo tempo, nosso treinamento clássico nos dá muita informação. Por exemplo, nós ensaiamos muito mais como um quarteto de música clássica, pensamos sobre o fraseado, o equilíbrio, a entonação e a ambiência. Dizemos para todos os jovens instrumentistas de música clássica: ;se não fosse pela nossa formação clássica, não teríamos como tocar nessa banda;

Sobre a trilha de Game of Thrones, como vocês a criaram, em que estavam pensando e como aconteceu?

Aluns membros do Break of Reality são fãs do seriado, inclusive eu. A música tema tem um cello e minha mulher, Amanda, sugeriu que nós fizéssemos um arranjo. Fez sentido. É uma grande música para nossa banda: é melódica, é rítmica, é épica. Tinha todas as características de muitas das nossas músicas originais. Patrick acabou fazendo o arranjo e queria dar a ele um pouco mais de corpo que a música original, então acrescentou ritmos e harmonias para dar uma roupa de Break of Reality. Gravamos o vídeo do YouTube num bar de vinhos em Nova Jersey, sem expectativa nenhuma de que se tornasse tão popular. Nosso vídeo teve mais de 8 milhões de views. É realmente inacreditável.

A energia que você coloca em um Bach é diferente da que coloca em um arranjo de Metallica?

Nós tocamos Bach em um estilo clássico tradicional: não pareceria certo adaptar algo tão bonito como uma suíte de Bach para cello em um estilo de rock. É tão puro. E gostamos de mostrar que podemos tocar música clássica assim como rock. Gostamos de mostrar para nossas audiências que ainda respeitamos nossa formação clássica e nossa experiência e que ainda podemos tocar esse gênero.

O que é rock clássico para vocês?

Misturar gêneros como rock e clássico é excitante, incomum e bonito. Acho que há um grande movimento de bandas como Break of reality e outras que estão construindo essa ponte entre os dois gêneros. E os fãs estão conectados com isso, especialmente o lado instrumental da música. Não podemos falar português, mas nossa música nos permite comunicar com as pessoas no Brasil. Isso é muito bonito.

Você acha que esses dois gêneros deveriam estar mais misturados?

É legal ver um músico misturar os dois gêneros de uma maneira autêntica e informada. Gosto de ver músicos que têm uma formação clássica, mas também carregam a alma e a energia que o rock pode produzir. E é isso que o Break of Reality deseja: capturar o sentimento e a emoção de cada música e um espírito verdadeiro, seja ele clássico ou de rock. Misturar gêneros nos traz diferentes tipos de pessoas e isso é uma coisa bonita também. O movimento alt-classical está mais forte que nunca e nós adoramos ser parte disso.

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