Diversão e Arte

Cena Contemporânea apresenta montagens de países da língua hispânica

Os ritmo espanhol da o tom da apresentação de hoje na casa

postado em 26/08/2015 07:29

Brickman Brando Bubble Boom aposta na fusão entre linguagens
O ritmo e a temperatura da performance espanhola dão o tom e as cores da programação de hoje, no Cena Contemporânea. A Agrupación Señor Serrano, da Espanha, traz uma cinebiografia cênica da vida de Sir John Brickman, o maior construtor e empreendedor da Inglaterra do século 19, um homem visionário, que inspirou o primeiro sistema hipotecário da história. Mas a peça é também uma cinebiografia sobre a vida de Marlon Brando, um ator selvagem em busca de um lar.

O espetáculo, que é uma criação coletiva de várias instituições ligadas à cultura na Espanha e na França, trabalha com projeções, maquetes e uma grande variedade de dispositivos. BBBB, como é carinhosamente chamado, recebeu o prêmio de Espetáculo Mais Inovador da Feria Internacional de Teatro y Danza 2013, Huesca.
[SAIBAMAIS]
Outro destaque da noite, Teatro invisible, é um espetáculo solo de Ana Vallés, no qual leva para a cena temas como o teatro, a situação da produção artística na Espanha contemporânea e, mais especificamente a realidade de ser mulher, galega e autora de teatro no mundo atual. Uma declaração de princípios, o espetáculo nasceu de um encontro entre Ana Vallés e estudantes de direção teatral em 2012. Tem grande inspiração no Teatro do Oprimido do brasileiro Augusto Boal.

Seguindo a onda dos países hispanofalantes, a dupla argentina Frederico Fontán e Ramiro Cortez traz o duo de dança contemporânea Los cuerpos, no qual dois homens transitam num espaço despojado. Em seus corpos, convivem o terrível e o belo, o animal, o caprichoso, a pulsão, a força extrema, o abandono. Os textos e situações retratados os levam a enfrentar-se nos limites físicos, sem perder o erotismo e a emoção.


Programação:
>> Albert Herring
Casa da Cultura de Brasília (DF). Direção: Francisco Frias. Hoje, às 20h. Teatro Sesc Paulo Autran ; Taguatinga. Entrada franca
>>Ricardo III
Gustavo Gasparini (RJ). Direção: Sergio Módena. Hoje, às 21h. Teatro Dulcina.
R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Classificação Indicativa: 12 anos
>> Vinil de asfalto
Edson Beserra e Seu Composto De Ideias (DF). Direção: Edson Beserra. Hoje, às 20h. Teatro Sesc Paulo Gracindo ; Gama. Entrada franca. Classificação indicativa: 12 anos.
>> Los cuerpos
Federico Fontán e Ramiro Cortez (Argentina). Direção e interpretação: Ramiro Cortez e Federico Fontán. Hoje, às 20h. Entrada franca. Classificação indicativa: livre
>> A geladeira
Antikartátika Teatral. Direção:Nelson Baskerville. Com Fernando Fecchio. Hoje, às 20h, no Espaço Usina, Centro de Arte e Entretenimento. Ingressos: 30 e R$ 15 (meia). Classificação indicativa: 12 anos.

>> Teatro invisble

Matarile Teatro. Direção e interpretação: Ana Vallés. Hoje, às 21h, no Teatro Sesc Garagem. Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia). Classificação indicativa: 16 anos.

>> Brickman Brando Bubble Boom

Agrupación Señor Serrano (ESPANHA). Criação coletiva. Produção: Barbara Bloin. Teatro Funarte Plínio Marcos. R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). Classificação indicativa: Livre


>> Entrevista // PAU PALACIOS, ATOR DO ESPETÁCULO BRICKMAN BRANDO BUBBLE BOOM
De onde vem o desejo de fazer a fusão de vídeos, jogos e interatividade no teatro?
De 2006 até 2010, fizemos um tipo de teatro com texto e diálogos. Não havia personagens nem quarta parede, mas sim uns performers que interagiam entre eles e construíam a dramaturgia a base de palavras e ações. O vídeo jpa tinha um papel importante, mas era um elemento a mais entre muitos outros. Em 2010, tivemos uma crise criativa e decidimos que queríamos mudar nosso campo de ação, queríamos nos comprometer pessoalmente com nossos espetáculos com nós mesmos em cena e queríamos fazer espetáculos que refletissem nossa maneira de ser e de nos comunicar. A partir dessa premissa, foi muito fácil começar a integrar mais vídeos, mais linguagem audiovisual e mais texto escrito. Começamos a trabalhar com maquetes e bonecos que nos permitiam criar ou inventar todo tipo de universos, sem limites econômicos nem de tamanho, integramos câmeras de vídeo, telefones móveis, tablets e outros gadgets porque são os instrumentos com que nos comunicamos normalmente. Nos parecia que deixar fora do teatro todos esses elementos tão presentes na nossa vida cotidiana era não ser fiéis a nossos tempos. E pela mesma razão, mais além do tecnológico, começamos a construir dramaturgias feitas com base em significados, referências e citações contínuas, dramaturgias que se constroem em rede e pedaços, que é a maneira de nos acostumarmos a ter acesso à informação, hoje em dia.
Situação atual do teatro na Espanha.
Seria fantástico poder falar do teatro contemporâneo a partir do ponto de vista criativo, mas a situação atual do teatro contemporâneo na Espanha é um drama de nível estrutural e se impõe à necessidade de falar dele. Por um lado temos um alto nível de criatividade, com companhias jovens que estão renovando com força o panorama teatral e com uma consistente presença internacional. No entanto, aproveitando a conjectura da crise econômica, os governos do partido popular da Espanha e de convergência e uniu na Catalunha levou a cabo uma operação ideológica de extermínio da cultura pública, livre e crítica. Assim como estão acabendo com a saúde e a educação pública, estão fazendo o mesmo com a cultura. Promessas que não são cumpridas de uma nova lei de mecenato, critérios econômicos de valorização da obra cultural, etc. Tudo isso faz o teatro contemporâneo mais fraco, com cada vez menos apoio institucional. O melhor teatro da Espanha se move hoje com círculos próximos ao underground, nós mesmos, com um total de 50 atuações esse ano, só 5 serão feitas na Espanha. Faremos mais apresentações nos Estados Unidos, Brasil, França e China do que na Espanha.

O intercâmbio com o Brasil é frequente?
Viemos ao Brasil primeiro em 2012, ao Festival Iberoamerticano de Teatro de São Paulo. Foi uma grende experiência em todos os níveis e desde então não deixamos de voltar. Em 2013, estivemos no Rio de Janeiro e este ano estivemos em Curitiba e outra vez em São Paulo. Neste ano, o Brasil será o segundo país onde trabalharemos, o primeiro são os Estados Unidos. Além disso, há alguns dias tivemos a sorte de coincidir com Christiane Jatahy na Bienal de Veneza. Conversamos bastante com ela e ficamos muito interessados pelos trabalho dela. Portanto, pouco a pouco, o Brasil se configura como um lugar de referência tanto para apresentar nosso trabalho como para aprender sobre outros artistas.

Quão importante é participar de um festival como o Cena Contemporânea?
Os grandes festivais do Brasil são um ponto de referência de todo o continente. Assim, depois da nossa apresentação no Rio de Janeiro, nos veio a oportunidade de trabalhar em Nova York. Sabemos que o Cena Contemporânea acolhe produtores de todo o continente e, portanto, é um ponto que pode dar muita visibilidade ao nosso trabalho. Por outro lado, é um festival que convida grandes artistas com os quais temos a possibilidade de trocar experiências.

Quais as principais influências do grupo?
Sabemos que, quando nos perguntam isso, esperam que demos uma lista completa de diretores e companhias de teatro. No entanto, o certo é que temos mais influências fora das artes cênicas. Uma peça de Videoarte de Yuri Ancarini, Os anéis de Saturno, de Sebald; Interestelar, de Christopher Nolan; a instalação In our dreams we have seen another world, dos irmãos Jake e Dinos Chapman; ou uma visita ao Salk institute, de Louis Kahan são para nós mais nutridores para criativamente falando que o que às vezes se pode ver em cena.

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