Diversão e Arte

Paulo Gustavo fala sobre a trajetória surpreendente

O Ator carioca fala sobre os limites da blague, a defesa de causas sociais, o encaretamento dos valores e o politicamente correto

Rebeca Oliveira
postado em 30/08/2015 07:35
Paulo Gustavo em Hiperativo: humor sempre engatilhado contra o preconceito

As estatísticas não eram favoráveis para Paulo Gustavo. Recém-formado na Casa de Artes de Laranjeiras em artes cênicas, o carioca decidiu investir em espetáculo de humor com um amigo, à época, também pouco conhecido. Era Fábio Porchat, igualmente inexperiente nos palcos. Em um teatro com capacidade para 80 pessoas, conseguem levar alguns amigos e conhecidos para vê-los em ação. Poucos. Mas o suficiente para fazê-los não desistir do novo ofício.

No espetáculo, Infraturas, uma esquete apresentava uma mãe com trejeitos exagerados. O público gargalhava. Com o fim da peça, Paulo Gustavo resolveu se aperfeiçoar e criou um texto exclusivo sobre ela. Nascia, há 12 anos, Dona Hermínia e o aclamado Minha mãe é uma peça, que rendeu a ele uma indicação ao Prêmio Shell na categoria melhor ator, em 2007. O resto, bem se sabe, virou história.

Convencido de que o teatro transforma pessoas, Paulo Gustavo não abandonou os palcos, mesmo com iminente sucesso na tevê e no cinema. Vai que cola, exibido no Multishow, tornou-se o programa mais assistido no canal no ano de estreia. Minha mãe é uma peça ; O filme, lançado em 2013, levou-o, mais uma vez, a um patamar notável. Foi o longa-metragem mais visto do ano, com quase 5 milhões de espectadores.
[SAIBAMAIS]
A esta trajetória, somam-se diversas passagens por Brasília. ;Adoro os teatros daí, inclusive a Sala Villa-Lobos, que é linda. Um absurdo ela estar fechada;, lamenta, em entrevista ao Correio. A última visita foi na quinta e na sexta-feira passadas, quando trouxe à capital o stand up Hiperativo. E um importante objeto. ;Sempre que visito a cidade trago meu nebulizador;, brinca. Por trás do cara boa gente e bem- humorado, há um artista inquieto e provocador. Conheça-o melhor.

Papel do humor
O humor tem um papel na cultura desde sempre. Ele traz leveza, alegria, as pessoas ficam mais divertidas e para cima. É uma forma que as têm de ir ao teatro e esquecer um pouco o dia a dia. Ele tem várias funções, inclusive a de tocar em assuntos sérios, suscitar crítica, falar de coisas delicadas, mas de uma forma mais sensível. Desce melhor. As pessoas se entendem por meio do riso. Não é hoje! É da mesma forma como já fizeram Jô Soares, Regina Casé, TV Pirata, Comédia da Vida Privada;

Eduardo Cunha
Esse presidente da Câmara dos Deputados que é contra o casamento de pessoas do mesmo sexo é só mais um. Existem milhões de pessoas contrárias à medida. Esse encaretamento é triste, sim, mas ele não existe de agora. Desde que o mundo é mundo, as pessoas são preconceituosas, e a cada dia que passa fica pior. O que acontece é que, como hoje tem a internet, as pessoas se escondem mais atrás de um perfil para dizer coisas absurdas. Mas escutamos e vemos esse tipo de pensamento o tempo inteiro. Pessoas que são totalmente contra o casamento gay, contra negros, são eleitas e conseguem um êxito na carreira política delas. Então, vemos que o buraco é muito mais embaixo.

Preconceito
Temos que estar sempre lutando contra o preconceito. Faço a minha parte por meio da minha arte. Em 220 Volts, só por ser um homem vestido de mulher e falar todos aqueles absurdos, faço uma grande brincadeira, mas também uma discussão sobre milhões de assuntos. Gente careta existe. Outro dia, no Teatro Procópio Ferreira, uma senhora que estava esperando o motorista chegar virou para as três netinhas e falou, depois de ver minha peça: ;Gente, desculpa, vovó trouxe vocês para assistir a uma peça de viado, travesti e gogoboy. Semana que vem vovó leva a um outro lugar;. O bilheteiro, que me contou essa história, me disse: ;Paulo Gustavo, sabe quem estava aqui hoje na sua plateia? A senhora dos absurdos;. Morri de rir.

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