O essencial é invisível aos olhos. De tão conhecida, a frase extraída de O Pequeno Príncipe, obra-prima de Antoine De Saint-Exupéry, caiu em domínio público. Literalmente. A obra foi lançada em 1943. Com o desaparecimento do seu autor, que era piloto de guerra francês e sumiu no Deserto do Saara em 1944, o livro foi protegido durante 70 anos pela lei de direito autoral. Em 1; de janeiro de 2015, portanto, a história do menino de cabelos dourados passou a ser propriedade pública na maior parte do mundo, ganhando novas edições e reinterpretações.
Traduzido para 280 idiomas, O Pequeno Príncipe é um fenômeno de vendas. O rendimento anual com licenciamentos ultrapassa os R$ 300 milhões. O viajante e sua echarpe ao vento foi recriado em diversos formatos, de utilidades domésticas à animação que leva o nome da obra, dirigida pelo americano Mark Osborne. De tão superexposta, a ficção poderia demonstrar sinais de cansaço. Mas a história parece longe da fadiga. Uma das versões mais recentes causou burburinho na internet, e foi iniciativa de uma brasileira. No ensaio O essencial, inspirado no livro O Pequeno Príncipe, Mari Merlim resgata a inocência do personagem de Exupéry. As semelhanças param aí. Em vez de um garoto loiro, como nas ilustrações do clássico francês, a fotógrafa paulista convidou uma criança negra para a sessão de fotos, realizada em Florianópolis, no sul do país.
As imagens foram postadas nas redes sociais de Mari Merlim e rapidamente viralizaram. Acostumada a clicar a delicadeza infantil, ela ficou surpresa com a repercussão. Estava, inicialmente, presa à mensagem essencial da obra, ;sobre o verdadeiro valor das coisas e a beleza na simplicidade;. Merlim imaginava, a princípio, que a escolha de um garoto negro não chamaria mais a atenção do que o contexto e a poética das imagens. ;Não foi algo premeditado, mas foi surpreendentemente bonito ver como se tornou um discurso de representatividade e de identidade;, afirma.
;A gente brinca que, a partir do momento que você concebe uma obra e a exibe, ela é do mundo, e não só mais sua. Foi exatamente assim que o ensaio ganhou outras vozes e representações, das quais não sou dona, mas sou adepta e apoiadora;, afirma a jovem fotógrafa, que, com a releitura, trouxe o debate ao país onde negros ainda sofrem um dos piores tipos de racismo: o velado. A iniciativa de Merlim vai contra o discurso de intolerância que ocupa as redes sociais. Muitas foram as mensagens de apoio pela ousadia da fotógrafa, que deu mais um sentido a obra filosófica e metafórica de Saint-Exúpery, conhecida por ser repleta de símbolos, atingindo em diferentes níveis a adultos e crianças.
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