A Legião Urbana reverbera. Provoca, acontece, polemiza. Como preferir. Renato Russo e a banda ainda vendem substancialmente, geram produtos e têm sido mote para filmes, mostras, mestrados, doutorados. Pelas redes sociais, a quantidade de legionários (como são conhecidos os fãs do grupo) se espalha. São muitos os fã-clubes, os tributos e homenagens.
Talvez por isso, seja tão convidativo para os ex-integrantes ; Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá ; e para a família ; principalmente por meio do filho de Renato, Giuliano Manfredini ; pensarem em projetos e iniciativas que possam manter vivos a obra e legado do poeta do rock nacional e do grupo que liderou.
Foram várias as tentativas. As mais conhecidas são recentes, como o Tributo à Legião Urbana, com Wagner Moura nos vocais, e o Renato Russo Sinfônico, que trouxe o primeiro elenco da música popular brasileira para entoar clássicos da Legião no Mané Garrincha, com direito a um holograma de Renato em uma das canções.
Uma nova empreitada, encabeçada por Dado e Bonfá, voltou a repercutir esses dias. O guitarrista e o baterista vão rodar algumas cidades (em pelo menos 25 shows) tocando o disco de estreia Legião Urbana na íntegra, em um projeto que celebra os 30 anos do lançamento. O músico e ator André Frateschi foi convocado para assumir o microfone. Por outro lado, Giuliano está envolvido com a gravação do filme Eduardo e Mônica, e com uma exposição que trará objetos pessoais do pai.
Os fãs, no entanto, nem sempre celebram tais atitudes. Muitos, inclusive, sentem-se ofendidos e negligenciados. ;Acho uma falta de respeito tentar recriar essa obra. Deixem o legado em paz;, pede o estudante Isaac Bonina, de 25 anos. Isaac lista várias ressalvas em relação aos projetos executados. ;Só gostei do holograma no show do Mané Garrincha. No mais, achei mal planejado. Nada a ver trazer artistas tão distantes do estilo da banda, como Ivete Sangalo. O tributo com Wagner Moura poderia ser bacana, mas ele canta muito mal;, opina o estudante, que se tornou fã aos 8 anos, depois de escutar Giz no rádio.
[SAIBAMAIS]O professor da Secretaria de Educação Valdir de Castro não hesita ao classificar como ;ridícula; a participação de Wagner Moura. ;Ótimo ator, mas nunca foi cantor. Foi uma falta de respeito;, endossa Valdir, um dos mais conhecidos legionários de Brasília. A admiração pelo grupo o levou a cometer algumas loucuras, como invadir o palco durante a inauguração do Memorial Renato Russo, no Gilberto Salomão: ;Cantei Que país é este ao lado do Negrete. Foi o máximo;.
Caso o tributo pensado por Dado e Bonfá passe por Brasília, Valdir não deve dar as caras. ;Minha reação foi de nostalgia e tristeza. A partir do momento que Renato foi embora, a Legião acabou;, atesta. Valdir e Isaac respeitam e louvam a importância de Dado e Bonfá na banda, mas acham que os músicos deveriam deixar Renato descansar.
O Correio entrou em contato com Dado Villa-Lobos e com Giuliano Manfredini, mas o músico e o filho de Renato preferiram não comentar o assunto.
Outro lado
No reino dos legionários, o consenso não prevalece. Há quem celebre os movimentos provocados pelos ex-integrantes e pela família. Caso do servidor público Paulo Silva, aficionado por Legião desde os 15 anos, quando recebeu uma fita com Faroeste caboclo. Paulo elogia a apresentação no Mané Garrincha e aprova o tributo com Wagner Moura, ;por ter sido feito por um fã cantando para seu ídolo;.
O servidor festeja a possibilidade de ver ;artistas renomados cantando Renato; e celebra as iniciativas que ajudem na ;preservação da obra;. Ele reagiu positivamente ao saber da turnê intentada por Dado e Bonfá: ;A geração mais nova terá a oportunidade de conhecer as músicas. Acho importante que a banda se renove e se perpetue;.
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