Agência France-Presse
postado em 07/09/2015 15:50
Em seu novo filme, "Rabin, the Last Day", exibido em competição nesta segunda-feira no Festival de Veneza, o cineasta israelense Amos Gitai arremete contra a campanha de violência que antecedeu o assassinato do ex-premier Yitzhak Rabin por um extremista judeu há 20 anos. "Meu objetivo não era criar um culto à pessoa em torno de Rabin, e sim investigar a campanha de incitação à violência que levou a seu assassinato. De alguma forma, este filme é a comissão de investigação que nunca existiu", diz o diretor, 64, autor de vários filmes sobre a sociedade israelense.Duas décadas depois da morte de Rabin, que assinou os acordos de Oslo e ganhou o Nobel da Paz, Gitai adverte sobre a propagação de um extremismo judaico religioso, violento e subterrâneo, que, segundo ele, ameaça os fundamentos democráticos de Israel.
[SAIBAMAIS]Um extremismo que se manifestou nas últimas semanas com a morte de três palestinos, incluindo um bebê, no incêndio criminoso de uma casa, atribuído a radicais, e da adolescente apunhalada por um judeu ultraortodoxo durante uma passeata do Orgulho Gay.
Para Gitai, o 4 de novembro de 1995, data do assassinato de Rabin, continua sendo "uma ferida aberta na história contemporânea de Israel".
Naquele dia fatídico em Telaviv, minutos após pronunciar um discurso para dezenas de milhares de pessoas em favor da paz, Rabin foi atingido por três tiros nas costas. O assassino, Yidal Amir, era um ativista de extrema direita contrário aos acordos de Oslo, assinados com os palestinos, que levaram Rabin, Yasser Arafat e Shimon Peres a receber o Nobel da Paz em 1994.
Campanha de ódio
Gitai lamenta que a investigação oficial tenha se limitado "às falhas operacionais, como a desordem, o guarda-costas que olha para o lado errado e o motorista que se esquece de ligar a sirene no teto do veículo, atrasando a evacuação. Não foram investigadas as forças subjacentes que tinham como objetivo matar Rabin".
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"Seu assassinato foi o ponto final de uma campanha de ódio, dirigida por rabinos delirantes, colonos contrários a qualquer retirada dos Territórios Palestinos, e pela direita parlamentar, com o Likud na primeira fila - já dirigido por Benjamin Netanyahu (atual premier) -, que queria desestabilizar o governo trabalhista", afirma o cineasta.
Gitai conseguiu a abertura das atas da comissão de investigação, consultou os arquivos dos meses que antecederam e sucederam o assassinato, e usou imagens de TV de discursos de políticos, entre eles Netanyahu, durante as manifestações contra os acordos de Oslo, em que Rabin foi representado vestindo o uniforme nazista.
"O longa é uma mistura de arquivos e cenas filmadas, a dificuldade foi encontrar um equilíbrio", explicou o cineasta, que deseja que a obra se torne uma contribuição para a posteridade.
"Rabin era um verdadeiro patriota israelense, apesar de este termo ser agora um monopólio da direita. Queria estabilizar a existência de Israel com um acordo de paz com os palestinos e havia compreendido que a paz não se consegue de forma unilateral, que deve-se reconhecer e levar em conta a existência do outro. Hoje, o outro não existe. Tudo é unilateral e se baseia na arrogância política", criticou.
"Agora, 20 anos depois do seu assassinato, continuamos mergulhados na crise gerada pelo desaparecimento de Rabin do cenário político e de sua visão", concluiu.