Diversão e Arte

Luiz Gallina diz que o Lago Paranoá tornará as pessoas mais felizes

O artista plástico mantém relação íntima com o cerrado brasiliense

Severino Francisco
postado em 10/09/2015 07:30

O artista plástico mantém relação íntima com o cerrado brasiliense
O artista plástico Luiz Gallina mantém uma relação estreita com a natureza do cerrado, tão extrema que, no início da década de 1980, ele se mudou do Plano Piloto para um condomínio situado em um sítio inóspito. Na década de 1970, ele ficou fascinado com a paisagem e registrou em xilogravuras a beleza torta, crispada, dramática e expressionista da vegetação do Planalto Central. No entanto, em seguida, na década de 1980, ao se mudar para as cercanias do Lago Paranoá, ele entrou na paisagem, acompanhou a mutação de peles das árvores, sentiu de perto as palpitações do ambiente e começou a entender que o Cerrado é arte contemporânea e teatro da vida e da morte, de Eros e Thanatos. Utilizou a figura de uma seriema em uma série de gravuras sobre alquimia. Além disso, ele é velejador e trafega de barco pelo Lago Paranoá quase todas as semanas. Nesta entrevista, ele fala sobre as suas aventuras e faz observações com olho de artista. Ele vê com otimismo a desobstrução da orla e prevê que, em breve, ela se tornará uma espécie de Parque da Cidade à beira d;água, que fará os brasilienses mais felizes no cotidiano.

//Entrevista

Como é a sua relação com o Lago Paranoá?
Eu tenho habilitação de mestre amador, posso viajar 50 milhas náuticas. Só falta mais um grau para que eu ganhe a condição de capitão amador, o que me permitiria atravessar o oceano como fez o Amir Klink. Eu velejava no Lago Paranoá quase todos os fins de semana, desde 1980, quando me mudei para um condomínio. As pontas de picolé ficavam todas abertas e algumas eram lindas. O sol entra por baixo. Algumas vezes, eu ia à noite. O Lago era longe, antes da construção da Ponte Costa e Silva, mas, hoje, ele está na cidade.

[SAIBAMAIS]No que a invasão da orla atrapalha a fruição do lago?
Dou um exemplo. Estava velejando com meu irmão, meu filho e uma sobrinha. O barco sofreu uma avaria e eu me aproximei das margens para consertar a embarcação. O dono da casa ameaçou soltar os cachorros em cima da gente. Foi um absurdo, o barco tinha duas crianças. No entanto, quem veio mesmo foi o caseiro, que acompanhou todo o nosso trabalho de restaurar o barco. Eu disse ao caseiro: ;O senhor não tem nada com isso, mas se o dono da casa soltar os cachorros, vou chamar a polícia, pois ele não é proprietário, essa área é pública;. Quase toda a orla foi ocupada, se acontece uma avaria, os barcos não podem parar. A lei diz que você pode parar em qualquer lugar. Certa vez, tive problema no barco, fiquei à deriva e fui em direção ao Palácio da Alvorada. O guarda ameaçou atirar, mas eu disse a ele que havia perdido o controle da embarcação. Com as invasões, é como se o lago todo fosse o Palácio da Alvorada. Acho que é preciso chegar a algo racional.

O que é bom apreciar no lago?
O por do sol dentro do lago é algo indescritível. Você pode apreciar todas as cores que conhece duas vezes, pois elas ficam refletidas na água. É o sol ao quadrado. Por isso, tem tanta gente fazendo festas no lago. Viajei naquele barco que afundou mais recentemente uma semana antes do naufrágio.

A interação com o lago influenciou o seu trabalho de artes plásticas diretamente ou indiretamente?
Indiretamente. A explosão de cores do céu de Brasília está nas gravuras e nas pinturas. Quem expressou isso de uma maneira mais consciente pela primeira foi o Wagner Hermusch. Mas qual o artista da cidade não se deixou influenciar por essas cores? Em Brasília, a calota inteira está exposta com uma enorme intensidade de luz. Está na pintura do Athos ou do Glênio Bianchetti para a gente ficar em dois grandes mestres da cor. O Athos trabalhava a cor com extrema exatidão. Fui aluno dele, ele dizia: ;Hoje, vamos pesquisar o ocre e o ouro;. O sol bate e, no lago, a luz vem de cima e de baixo pelo reflexo.

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