De um lado, segurança e precisão nos bastidores das filmagens de Prova de coragem, o filme de Roberto Gervitz em disputa no festival. De outro lado, nas telas, o protagonista Hermano (Armando Babaioff), aos 35 anos, empenhado numa escalada temerária à Terra do Fogo, como uma prova para minimizar enorme dívida interna. As escolhas e a capacidade de lidar com a suposta liberdade norteiam a vida adulta. ;Mas liberdade é fazer tudo o que te dá na telha ou escolher os teus compromissos? Num retrospecto, diria que o Hermano é bastante diferente do Mário, personagem de Feliz ano velho (livre adaptação dele, com base no livro de Marcelo Paiva). Sobretudo pelos dilemas que enfrenta. Mas, diria que ambos os personagens compartilham do desejo e do medo de viver; e eles passam por transformações importantes, fruto de decisões, sem navegar ao sabor dos acidentes ou do acaso;, observa Gervitz, que encerra a mostra competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
O diretor crê que emocionar e provocar questionamentos estão agarrados à sua nova produção gaúcha. ;Evito filmes de tese. Mas um dos temas do filme é o da individualidade e do narcisismo contemporâneos que surgem ao final dos sonhos e dos projetos coletivos, num século em que cada um vê no outro um competidor;, observa Gervitz. Prova de coragem não dimensiona o protagonista como aficionado por esportes radicais, ligado em adrenalina. ;Esse componente se deve aos conflitos enfrentados pelo personagem. Meu filme é intimista. A escalada responde a um aspecto revelador do Hermano, que é um cirurgião respeitado. Trato no longa de um homem dos nossos dias, sua relação com mulheres, com a paternidade e com o ciclo da natureza;, comenta.
Em Prova de coragem, o diretor matou a vontade de trabalhar com a atriz Mariana Ximenes, recentemente premiada no Festival de Gramado. ;Ela tem uma loucura, uma energia agressiva que me interessa muito e a torna nada previsível, é extremamente autoexigente e lúdica. Quanto a Babaioff, ele fez um trabalho que foi muito elogiado no Festival de Montreal, seguindo interiorização;, observa.
Personagens masculinos conturbados, e emotivos por dentro, ilustram muito da carreira do realizador. ;Sou avesso aos exageros melodramáticos ou histriônicos. Meu cinema é o da delicadeza;, avalia Gervitz. Um período de preparação de duas semanas otimizou interpretações, em geral, enquanto os atores centrais contaram com quatro semanas. Praticamente todo rodado em Porto Alegre, o filme consumiu 36 dias de filmagens. As cenas de escalada foram rodadas em Farroupilha (RS).
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