Diversão e Arte

Marcélia Cartaxo: "A política do nosso país não tem respeito com nada"

Em entrevista ao Correio, a atriz premiada com o Candango fala sobre momentos da carreira, vivências e visão de mundo

Ricardo Daehn
postado em 24/09/2015 07:05
Aos 53 anos, a atriz e diretora de cinema Marcélia Cartaxo vence Candango por Big Jato, de Cláudio AssisCom 1,55 metro de altura, e aos 53 anos, a atriz e diretora de cinema Marcélia Cartaxo, às vezes, não se reconhece na tela. ;A magreza talvez fique mais gigante na tela. Não sei que mulher é essa; fico grande;, resume a recém-premiada, com o troféu Candango, Marcélia. Para o longa de Cláudio Assis, ela trouxe a autoridade familiar necessária, num filme que adapta texto de Xico Sá. À frente de personagem sem nome, internamente, ela reconheceu a construção de uma verdadeira Maria, mulher e mãe universal.
[SAIBAMAIS]
;A Maria, de Big Jato, é uma mulher extremamente brasileira, trabalhadora, de baixa renda, mas uma mulher guerreira que, com o marido e a família, luta para viver com essa renda. Essa é a Maria que eu faço: vendo perfumes e meu marido trabalha, com excrementos, no caminhão Big Jato;, define. A exemplo da retirante Macabéia, papel que lhe rendeu prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim, nos meados dos anos 80 (em A hora da estrela), Big Jato traz momento de fartura para a atriz, dona do segundo troféu Candango e de enorme carga de responsabilidades. ;Fiz na tela, uma mulher madura e autoritária, mesmo na vida real, não tendo filhos. Eu sou a filha mais nova de cinco irmãos e, desde o A hora da estrela, tenho assumido esse papel de cuidar deles. Dos meus pais, com mais de 80 anos, também. É tudo comigo;, explica. Abaixo, em entrevista o Correio, a atriz repassa aventuras, vivências e visão de mundo.

Tamanho do talento
Hoje, em dia não existe mais essa coisa de você ser coadjuvante ou protagonista, tudo depende do desempenho do ator. Num bom trabalho, isso é superado. Para o cinema, o teatro foi minha base, desde os 12 anos de idade. Em 1984, houve o projeto Mambembão em que os melhores do teatro vinham do Sul para o Nordeste e vice-versa. Eu estava no espetáculo Beiço de estrada, quando Susana Amaral procurava a protagonista do filme A hora da estrela. Ela viu tudo que é peça que veio do Nordeste. A produtora do filme, mesmo com a escolha quase definida da Susana, fez questão do teste.

Ciclo migrante
Quando saí do Rio de Janeiro, recentemente, e resolvi voltar para a Paraíba, eu me sentia menos fraca do que no Rio, com todo o acesso à cultura que tinha lá. Hoje, eu trabalho na Secretaria de Cultura, sou diretora de Audiovisual na Funjope (Fundação Cultural). Foi difícil, passei dois anos para conseguir me estabelecer em João Pessoa. O ritmo é diferente. As coisas tardam a chegar em termos de cultura. Mas com relação ao bem-estar, eu estou bem melhor atualmente. No Rio, era sempre uma correria, indo atrás de Rede Globo, de patrocínio, esse tipo de coisa.

Pobreza de país
Nossos representantes não alcançam a realidade de pobreza no Brasil, porque eles não vivenciaram essa realidade, o Lula até tudo bem; nós sabemos que ele passou por isso. Com relação à presidente Dilma Rousseff, eu acho um desrespeito muito grande o que os brasileiros estão fazendo com ela, porque é mulher e a maioria dos políticos são homens, machistas. E tudo que tem acontecido está realmente atrapalhando nossa política, não está colaborando com o país, não é a favor do povo trabalhador. E isso para mim é inaceitável: é uma espécie de golpe. A política do nosso país não tem o menor respeito com nada, nem com a mulher, nem com a presidente, nem com os trabalhadores e nem com povo. E o que Dilma está fazendo com a miséria, apesar de estar distribuindo dinheiro para combater isso, é fazer com que essas pessoas vivam um pouco melhor. Dinheiro de bolsa não dá para sustentar nada nem ninguém.

Episódios das vaias
Na vida, a gente erra. Cláudio Assis (diretor de Big Jato) não estava consciente do que estava fazendo naquele momento (de episódio que o vinculou a machismo), mas isso não justifica nada. Ele é um cara maduro que, no fundo, é uma criança também. As pessoas precisam entender que é um trabalho (o longa Big Jato) e que envolve muitas pessoas. Uma questão pessoal não pode interferir em algo maior que é um filme. Houve uma redenção, ao final do Festival de Brasília, de ambos lados: de Assis e do público. Isso eu senti e Cláudio também sentiu o que aconteceu. Vamos ver como ele vai se enquadrar daqui pra frente.

Fala, Assis!
Eu acho que, a todo tempo, Cláudio Assis tenta justificar e as outras pessoas não o deixam falar. Seria bom que as pessoas ouvissem. Esse episódio todo respingou no trabalho do Cláudio Assis. Nosso trabalho, no filme, foi muito bem aplaudido, muito bem visto. É um trabalho que toca em vários pontos sociais e acho que o Cláudio foi grande. Eu acho que ele está vivendo um tempo muito infeliz na vida dele por conta de um átimo. Acredito que nossa equipe de Big Jato não merecesse isso tudo.

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