A vida pode ser linda em alguns momentos, mas o mundo no qual ela se desenvolve pouco tem de bonito. Abuso e violência, a cantora e compositora chilena Isabel Parra acredita, são uma fração da índole humana e estão lamentavelmente muito presentes na maneira como o homem vive. Por isso, o disco Con los piés sobre la tierra tem muitas canções tristes, que não são destinadas a ;bailar;. Filha de Violeta Parra, Isabel passou por Brasília na semana passada para um concerto em celebração à festa de independência do Chile, comemorada em 18 de setembro. Ao lado do italiano Roberto Trenca, com quem produziu os dois últimos discos, cantou faixas do novo trabalho, mas também canções históricas que ajudaram a transformar sua mãe em símbolo da música chilena e da história de luta contra as ditaduras na América Latina.
Con los pies sobre la tierra é o 23; disco da artista e traz uma parceria que proporcionou uma maneira diferente de trabalhar. ;Foi feito na casa de Roberto, em Nápoles. As canções são praticamente todas compostas por mim, mas no disco muda a situação porque ele colocou toda a musicalização completa das canções e as gravou. E tivemos um engenheiro de som também, então foi uma experiência muito rica e nova na minha vida;, explica Isabel, que trabalha em parceria com Trenca há nove anos.
A artista escreve sobre o que vê e sente. ;Em vez de escrever um diário, faço canções. É uma razão pessoal, mas também é meu trabalho. Nas canções, nós inventamos, falseamos a verdade, mentimos e também nos protegemos detrás e mostramos o que não se quer mostrar. É um processo lindo e um pensamento pessoal sobre essa vida fugaz, tremenda, linda, violenta e cheia de dores e felicidades;, conta. Por isso, as canções de Con los pies sobre la tierra falam de um mundo violento, um mundo que tem assustado a artista cada vez mais.
Feminicídio
As mulheres e o feminicídio aparecem com destaque nas composições do disco. É um tema que Isabel acredita ser pouco falado na sociedade. ;Ninguém quer falar disso porque é muito doloroso, porque não há solução, porque há feminicídio no mundo inteiro. Preocupo-me com isso porque me dói, não porque ache que fazer uma pobre canção vá mudar algo. Está na alma do ser humano matar a pessoa que ama;, lamenta. Outro tema tratado no disco são as violências. Em Abusos, ela fala de crianças, pais, filhos mulheres, velhos, jovens e doentes. Minorias tem versos sobre a transformação de pessoas e de situações e Asesinadas canta as ameaças. ;Nós vivemos em uma sociedade abusiva, com pessoas que ganham pouco, outras que têm demais, instituições poderosas, presidentes ditadores. Veja o que está acontecendo com os imigrantes (na Europa). Que coisa mais horrenda. Não creio que vivemos em um mundo bom, creio que vivemos em um mundo muito averso às pessoas, é preciso lutar muito, sempre;, constata a compositora, cujos trabalhos refletem uma maneira de ver o mundo.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.