Cláudio Assis é mesmo um pé de vento que levanta sentimentos antagônicos por onde passa... Mas como este diretor pernambucano ajuda a refrigerar o cinema brasileiro... Em entrevista ao Correio, um dia antes de saber que venceria (pela terceira vez) o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro com Big Jato, o diretor chegou às lágrimas ao comentar o linchamento que vem sofrendo nas redes sociais, depois de proferir palavras machistas e infelizes sobre o filme Que horas ela volta? e sua diretora, Anna Muylaert. Deixando as vaias de lado ; sem se esquecer, porém, de que a sociedade não suporta mais nenhum tipo de preconceito ; Cláudio Assis se emocionou ao saber que na redação do Correio, onde concedeu esta entrevista, Glauber Rocha havia trabalhado. ;Por favor, coloque na página os versos cantados por Sérgio Ricardo sobre Corisco (Othon Bastos) em Deus e o diabo na Terra do Sol, ;é minha resposta para aqueles que estão me atacando.;
; Se entrega, Corisco!
; Eu não me entrego, não!
Eu só me entrego na morte
De parabelo na mão!
Como e quando você descobriu o cinema?
Quando era criança, em Caruaru, tinha um cinema que levava o nome da cidade, todo dia ia assistir aos filmes e aproveitava para colecionar fotogramas que o maquinista vendia pra gente ou trocava por gibis. Aí, fiz amizade com o lanterninha, que também era cabo da polícia, o cabo Rodrigues. E, em troca de livros didáticos já usados por meus irmãos, ele deixava eu entrar no Cine Caruaru de graça. Não tinha esse negócio de idade, de censura... Assistia a qualquer filme. Quando a luz se apagava, eu entrava escondido. Via de tudo.
E depois...
Um pouco mais velho, fui fazer teatro. Em seguida, eu e uns amigos, criamos um cineclube, o Lumier. Só passávamos filmes de arte, Fellini, Bergman..., todos os sábados bem cedo, a partir das10h, no Cine Caruaru. As sessões eram lotadas, os debates acalorados... O sucesso foi tanto que a gente perdeu a sala do Cine Caruaru ; dava mais público que as sessões comerciais. Fiquei um pouco desgostoso da cidade e decidi partir para o Recife no fim dos anos 1970. No Recife, ajudei a criar inúmeros cineclubes, cheguei a ser candidato à vice-presidência do Conselho Nacional de Cineclubes, naquela época em que todos os movimentos de esquerda, como a Libelu, estavam envolvidos no cineclubismo. Um movimento de resistência pura. Nessa eleição, eu e meu amigo Enoque, saímos do Recife até o Rio Grande Sul, onde ocorreria o pleito, de carona... (risos) Imagine a saga.
Mas quando você partiu para fazer cinema?
Estudava economia na federal de Pernambuco, mas decidi que não ia fazer nada que não fosse cinema. Cismei! Posso morrer de fome, mas vou viver de cinema. Foi aí que fiz o Padre Henrique ; Um crime político (1989). Tentaram matar dom Helder Câmara, não coseguiram, mas mataram o padre Henrique e deixaram paraplégico Cândido Pinto, que era presidente da UNE-PE.
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