Na capa de Coleção Ipsis de Fotografia Brasileira ; Thomaz Farkas, o Congresso Nacional está isolado por uma gambiarra, um arame que, no fim das contas, representa uma certa passagem do tempo. Não se pode mais permitir ao público brincar na cúpula do prédio-patrimônio. Tampouco há simpatia, de maneira geral, por aqueles que tocam das duas casas legislativas brasileiras. A imagem foi captada em abril de 2000, quando o fotógrafo visitou Brasília a convite do Correio Braziliense.
A intenção era que Farkas percorresse os mesmos lugares fotografados entre 1958 e 1960, tempo em que a capital surgia do nada e ganhava os contornos de cidade. Quarenta anos depois, o fotógrafo retornou ao Núcleo Bandeirante, um dos pontos visitados em 1960, além do Plano Piloto. As imagens de 2000, no entanto, pouco diferem daquelas captadas na época da construção. Durante a entrevista, Farkas constatou: ;A cidade mudou nas aparências. Mas, para o povo, a vida continua praticamente a mesma;.
As imagens realizadas em 2000 integraram um caderno especial que celebrava os 40 anos de Brasília. Farkas fez mais de 50 imagens, das quais 13 foram publicadas ao lado de uma série realizada em 1958 no Núcleo Bandeirante, em um diálogo que recupera cenas e paisagens separadas por mais de quatro décadas. O resto permaneceu inédito e foi essa característica que levou Eder Chiodetto, coordenador da coleção, a focar em Brasília o volume dedicado ao fotógrafo. ;Essa série de 2000 só foi publicada no caderno de vocês e, recentemente, numa coletânea do Instituto Moreira Salles. Mas não tinha uma visão do ensaio. É um trabalho inédito;, explica Chiodetto. ;E é uma visão extremamente crítica que ele coloca. Quem não conhece Brasília chega aí e tem um desbunde com a arquitetura, mas não pensa como é a vida, sobretudo a de quem não está contemplado pelo Eixo Monumental.;
Arquitetura monumental
Farkas esteve em Brasília pela primeira vez em 1958, a convite do arquiteto Jorge Wilheim e do sociólogo Pedro Paulo Poppovic, integrantes da equipe de Oscar Niemeyer e proponentes do concurso que resultou na construção da capital. Enquanto os fotógrafos oficiais da capital se deleitavam com a arquitetura monumental que surgia no Planalto Central, Farkas olhava para as pessoas. Queria entender como elas se relacionavam e se encaixavam no espaço.
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