Svetlana Alexijevich foi premiada na manhã desta quinta-feira (8/10) com o Prêmio Nobel de Literatura. Ela foi a 14; mulher a receber o título. A última premiada foi em 2013, Alice Munro, escritora contista canadense.
Mas o nome da bielo-russa, que não tem nenhum livro publicado no Brasil, causou estranheza para algumas pessoas. Mas quem é a jornalista vencedora do prêmio? O Correio conta um pouco da história da autora a seguir.
Quem é ela?
Nascida em 31 de maio de 1948 no oeste da Ucrânia em uma família de professores rurais, formada em jornalismo pela Universidade de Minsk, Svetlana Alexijevich , trabalhou na década de 1970 na editoria de cartas à redação do "Selskaya Gazeta", o jornal das fazendas coletivas soviéticas.
Foi repórter em vários jornais locais e, em seguida correspondente para revista literária Neman. Passou parte da carreira se dedicando a escrita narrativas de entrevistas com testemunhas de acontecimentos dramáticos no país, como a Segunda Guerra Mundial, a queda da União Soviética e do desastre do Chernobyl. Por conta da perseguição no regime do presidente Aleksandr Lukashenko, Aleksievitch abandonou o leste europeu e foi morar em cidades como Paris, Berlim e Gotemburgo. Em 2011, voltou para Minsk.
Obra
Os seus livros estão traduzidos em 22 línguas (ainda não existente no mercado editorial brasileiro) e já foram adaptados a peças de teatro e documentários. Considerada uma das autoras mais prestigiadas a escrever sobre a URSS, os seus trabalhos têm recebido uma enorme aceitação por parte da crítica.
Além do recente prêmio Nobel de Literatura, a autora tem sido agraciada com importantes prêmios internacionais, como o Erich Maria Remarque Peace Prize (2001) e o National Book Critics Circle Award (2006). O seu mais recente livro O fim do homem vermelho recebeu o Prémio Médicis Ensaio, em 2013, e foi considerado o Melhor Livro do Ano pela revista Lire.
Sua obra gira em torno de crônicas literárias da história emocional de soviéticos e pós-soviéticos. Rica em detalhes, a escritora ouviu diversos depoimentos que inspiraram sua produção. "Se você olhar para trás em toda a nossa história, tanto soviético e pós-soviético, é uma enorme vala comum e um banho de sangue. Este é um desafio para todos os seres vivos na terra. Essa é a nossa história e este é o tema dos meus livros, este é o meu caminho, meus círculos do inferno, de ser humano para ser humano", afirma a jornalista a agência France Presse.
Perfil feminista
Um de seus primeiros livros A guerra não tem face feminina, foi inspirado por depoimentos de mulheres que lutaram durante a Segunda Guerra Mundial, gravados pela própria Alexijevich.
"Tudo o que sabíamos da guerra foi contado pelos homens. Por quê as mulheres que suportaram este mundo absolutamente masculino não defenderam sua história, suas palavras e seus sentimentos?" (trecho do livro)
Após a publicação, a obra foi acusada de "romper a imagem heroica da mulher soviética" e seu livro teve que esperar pela Perestroika, a reforma do sistema aplicada por Mikhail Gorbachev, para ser publicado em 1985. Por conta do material, ela alcançou fama em toda a União Soviética e no exterior.
A escritora também mostrou ao mundo outras publicações históricas de relevância como Vozes de Chernobyl: A história oral de um desastre nuclear (1997), onde dedicou mais de 10 anos de depoimentos com vítimas da tragédia; e Caixões de zinco (tradução literal para o português), que demonstra sensibilidade com o povo afegão fazendo uma comparação com com soviéticos.
O mais recente lançamento da escritora e um de seus livros mais elogiados é O fim do homem vermelho. Em que Svetlana Aleksievitch consegue dar voz e manter a memória soviética de homens e mulheres.