Nem tuberculose, nem câncer de pulmão. No ofício diário de extrair ouro e cobre para endinheirados empresários, 33 mineiros chilenos sofreram circunstâncias da natureza, do acaso e da falta de condições seguras que os deixaram expostos à morte, em 2010. Dados oficiais mostram que doenças e acidentes matam, anualmente, 12 mil mineiros no mundo. Contra esses fatos, por 69 dias, e debaixo de uma rocha de peso superior a 1 milhão de toneladas, os 33 trabalhadores despontaram em telejornais vistos por mais de um bilhão de espectadores.
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Dando unidade ao drama real, a literatura do vencedor do Pulitzer Hector Tobar se afirmou em publicação negociada apenas depois das filmagens de Os 33, longa-metragem que estreia na cidade, hoje, sob direção de Patricia Riggen. Os mais de 700 metros solo adentro, que serviram como cenário real (na mina de San Jose, perto de Copiapó) para o desastre, não foram representados para o cinema. Na verdade, em 33 dias de filmagens, as locações ocorreram nas minas colombianas de Nemocón e Zipaquirá.
;Nesta trama, você vê a condição humana como se estivesse sob uma lupa;, já comentou, em material de divulgação de Os 33, o astro Antonio Banderas, ciente da relevância do espírito de grupo e da força psicológica adotados pelos personagens reais, que não perderam as esperanças, mesmo depois da quebra de nove perfuratrizes na execução do resgate. No cinema, a música de James Horner promete acentuar o drama, a exemplo do que ele alcançou nos acordes de Apollo 13 ; Do desastre ao triunfo.
O relato de uma quase tragédia
Quando o último mineiro soterrado no acidente da mina de San José foi resgatado, na madrugada de 14 de outubro de 2010, os 33 sobreviventes do pior acidente da história das mineração no Chile estavam unidos por uma tragédia e por uma esperança. Pouco tempo depois, decidiram que, se alguém fosse contar a história do acidente e do resgate, precisaria assinar contrato com todos eles e ouvir todas as histórias: os 33 não queriam ver suas histórias beneficiarem um ou outro oportunista, queriam vê-la contada por um único autor.
Os mineiros venderam então os direitos da história para o norte-americano Héctor Tobar. Filho de imigrantes da Guatemala, o jornalista é autor de três outros livros e tem passagem por veículos como The New Yorker, L.A. Weekly e Los Angeles Times, além de ter ganhado um Prêmio Pulitzer pela cobertura dos distúrbios que abalaram Los Angeles em 1992. No livro, Tobar narra detalhadamente desde a chegada dos mineiros a San José, em um dia seco de agosto, até os momentos posteriores ao resgate e como alguns dos sobreviventes acabaram por lidar com o medo e as memórias de dois meses soterrados.
Na escuridão
De Héctor Tobar. Tradução:
Renata Telles. Objetiva,
326 páginas. R$ 44,90
Árduo cotidiano
5 de agosto de 2010
Sem comunicação, 33 mineiros ficam debaixo dos escombros, após
o desmoronamento de San Jose.
6 de agosto
130 pessoas são integradas à equipe de resgate.
7 de agosto
O presidente chileno Sebastian Piñera se desloca para Copiapó, palco do caos.
22 de agosto
Surge o primeiro comunicado, por escrito, do grupo: Estamos bem no abrigo, todos os 33 de nós
23 de agosto
Chega de uma segunda sonda para os mineiros; nisso, há como receberem comida e água
26 de agosto
Uma mensagem conjunta, em vídeo, chega para as famílias das vítimas
29 de agosto
São concedidos 20 segundos a cada mineiro, para que falem com familiares
14 de setembro
Ariel Ticona, a distância, sabe do nascimento da filha.
17 de setembro
Com 30 centímetros de largura, um buraco alcança os 33.
25 de setembro
Chega à mina a cápsula de resgate. Os primeiros testes positivos do equipamento ocorrem cinco dias depois.
5 de outubro
160 metros distanciam mineiros de socorristas.
9 de outubro
Uma perfuratriz rompe o teto da mina.
13 de outubro
Vem à tona o primeiro resgatado ; quase um dia depois, todos respiram aliviados, com o despontar do 33;.
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