Fábio Baroli começou a pintar na adolescência por pura intuição. Aulas de arte na escola pública em Uberaba (MG) não eram uma realidade. A sala de aula inteiramente dedicada à arte ele só foi mesmo conhecer na Universidade de Brasília (UnB), faculdade que escolheu cursar por causa da extensa ementa dedicada à arte contemporânea. Depois de oito anos em Brasília e três no Rio de Janeiro, ele decidiu voltar às origens para fazer o que chama de matutoantropologia. No interior do Brasil, aos 34 anos, Baroli faz uma arqueologia do matuto contemporâneo, sem romantismo, com uma leitura crítica e muita figuração. Nos títulos, os trocadilhos da roça, com todos os seus erros e peculiaridades, completam o sentido da imagem. Baroli gosta de pensar (e analisar) o que é a vida no campo no século 21 e isso fica claro em trabalhos como Cê gosta de laranja?, Não mexo mas, engato e A terra do zebu e a casa do caralho, expostos em Deitei para repousar e ele mexeu comigo, mostra em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Realidade X interior
Quando pensei esse trabalho, estava rolando uma série de manifestações de trabalhadores, black blocs, gente dominando as ruas e protestando, reivindicando seus direitos, e eu ficava imaginando. Não vi uma classe de operários do campo com ferramentas agrícolas nessas manifestações. Ficava imaginando que se esses matutos caíssem na tevê ou na internet reivindicando seus direitos seriam cyberjecas. Comecei a pensar sobre isso e desenvolvi esse trabalho.
Beleza X perturbação
No meu trabalho, tem uma coisa muito importante que é a ideia da colagem. Uso o díptico, tríptico ou políptico como técnica porque acho que reforça a ideia da colagem. Quando você tira uma imagem de um lugar e outra de outro, só por estarem em lugares diferentes elas já trazem significados diferentes, coexistentes, que existem ao mesmo tempo e podem se relacionar. Quando juntas, num políptico, uma interfere no significado da outra e essa interferência, na verdade, pode ser uma deformação, uma transgressão do significado. Acho um grande barato essa possibilidade. Você olha no geral, é bonito e colorido, mas quando você para para refletir, tem sempre algo mais.
Fotografia
Todo o processo está superassumido na superfície da tela. Quando a seca entra, traz também a ideia do álbum, tem os espaços em branco, as fitas que colo para dividir cada cena. É uma pintura que vem de uma composição através da colagem, tenho que montar a cena, pegar uma cena de várias fotografias que fiz, trabalhar isso no computador. Geralmente, componho digitalmente no computador pela facilidade.
Realidade X ficção
Tem uma ficção no contar a história. Em todos os trabalhos tem um pouco isso. Quando voltei para Uberaba, decidi recontar minha própria história, então, no próprio contar a história tem uma ficção. Manoel de Barros mesmo diz isso. ;Noventa por cento do que escrevo é invenção, só 10% é mentira.;
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