Diversão e Arte

Conheça Fernando Schlaepfer, o nome por trás do projeto 365 nus

O carioca tem postado uma foto conceito com nudez por dia nas redes sociais, onde acumula milhares de seguidores

Rebeca Oliveira
postado em 08/11/2015 07:31

Criador do site I hate flash, o carioca Fernando Schlaepfer tem contato com a nudez artística há anos. Entre os trabalhos que já produziu, estão imagens para o Paparazzo, site sensual da Rede Globo. Mas, esse ano, ele decidiu desvincular a nudez comercial de seus trabalhos autorais com a criação do projeto 365 nus. Todos os dias, desde 9 de abril, ele posta uma imagem artística com nudez como elemento central.

Segundo Fernando (em autoretrato), a cada em tabu que pensamos avançar um passo, recebemos uma enxurrada de preconceitos, intolerância ou ignorância

"Sentia falta de poder criar com menos amarras, falar sobre um assunto que eu me interessasse e pudesse me preocupar menos com detalhes e padrões que eu preciso seguir em trabalhos ; coisas como posicionamento da marca, briefings externos, atenção com caimento de roupas, representação do produto e detalhes do tipo que permeiam os universos da moda e publicidade", conta. "Então, eu cheguei a resposta que já estava na minha cara para criar imagens onde roupas, produtos, mercados ou consumidores não interferissem no processo: fotografar apenas pessoas nuas, onde a foto seria somente o resultado de uma ideia trocada com ela e somente ela", emenda o artista.

A seguir, leia a entrevista com Schlaepfer e entenda os conceitos do 365 nus.

Como chega até os personagens fotografados e escolha a atmosfera das imagens?

Tento trazer as pessoas que estão próximas a mim, que converso sobre, que tem algo a falar sobre o assunto. Quando parei pra conversar mais sobre, cheguei a uma conclusão quase óbvia de que todas as pessoas têm uma relação com o nu. Que todas ficam nuas é um fato (espero que seja), mas praticamente todas têm o que falar ou trocar sobre isso. Os assuntos e motivos são infinitamente variados de pessoa para pessoa, indo de auto-aceitação e superação de traumas a liberdade e naturismo. Os cenários variam tanto quanto as pessoas porque elas têm uma influência direta na escolha deles: procuro sempre chegar numa locação que a pessoa fique a vontade, de preferência que tenha alguma relação pessoal com o lugar, e quando possível, que infrinja o mínimo possível de leis.

Para postar as imagens no Instagram, você utiliza uma tarja. Muitos foram os artistas censurados pela rede por imagens que ela considera impróprias. Teve medo de que isso acontecesse contigo?

Aconteceu, muitas vezes. Algumas delas, até em imagens que não aparecia absolutamente nada ; como um dos primeiros nus masculinos que publiquei, alguém se sentiu ofendido pelo simples fato de ser um nu... masculino ;, em outras, uma simples e quase invisível insinuação de um mamilo. É uma pena, porque as redes sociais são o meio mais espontâneo de divulgação de um trabalho autoral, então na maioria das vezes em que alguma pessoa é impactada pelo projeto, ela começa vendo uma versão que não é o ideal da foto ; mas não é o fim do mundo, porque quem se interessa a fundo chega bem facilmente ao site do projeto.

[SAIBAMAIS]

Notei que você vem com frequência a Brasília. Qual o elo entre você e a capital? Já clicou alguém daqui para o projeto?

No meu "tempo livre" eu sou DJ, e tem uma galera de peso fazendo festas animais em Brasília, quase que mensalmente sou convidado a tocar em alguma. Como o projeto é uma dedicação diária ; todo dia estou ou fotografando, ou editando, ou postando, e muitas vezes os três ao mesmo tempo ;, tenho que arrumar um jeito de fazê-lo mesmo nas minhas viagens, sejam a lazer, sejam a trabalho.

Felizmente conheci algumas pessoas muito legais aí em Brasília, que me receberam de braços abertos desde a primeira vez, e fiz algumas das minhas fotos preferidas do projeto por aí!

Para o artista, nas vertentes autorais, fotógrafos de nus vão  em um caminho diferente do convencional, do porto-seguro.

Em sua opinião, porquê o nu é tão aceito em sua vertente comercial e pouco aceito na vertente autoral?

Acredito que pelas preocupações em cada caso. Citando o meu pessoal: em meus trabalhos comissionados, eu nunca fotografei homens, por exemplo. Na enorme maioria foram mulheres, brancas, magras, cis, sendo sensuais. E não há discussão, é isso que é mais aceito, é o padrão vigente. Acredito que nas vertentes autorais, as pessoas tenham o ímpeto de fazer algo diferente do que fazem nos trabalhos comerciais, ou seja: de alguma forma, indo em um caminho diferente do convencional, do porto-seguro. Não que todos projetos autorais necessariamente confrontem algo, queiram sair do lugar comum ou se cerquem de preocupações, mas pelo menos é meu caso.

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