Diversão e Arte

Pierre Lapalu brinca de criar exposição com artistas fictícios

Artista paranaense inventa narrativas de ficção para questionar a arte

Nahima Maciel
postado em 10/11/2015 07:30

Lapalu criou gravuras para atribuir a uma sociedade que nunca existiu

A Sociedade Cavalieri nunca existiu, mas poderia perfeitamente ter ocupado os salões da renascença italiana. Já Giovanni Battista de Cavalieri existiu de verdade e viveu entre 1526 e 1597. Foi um gravador contemporâneo de Michelangelo e Raphael, mas não ganhou a projeção dos mestres e, por isso, intrigou o artista paranaense Pierre Lapalu. Reflexões quanto ao que leva um artista a ser perpetuado na história da arte fizeram Lapalu embarcar numa pesquisa intrigante e criar um mundo no qual o misterioso e desconhecido gravador poderia ter existido. Sociedade Cavalieri, exposição em cartaz na Caixa Cultural a partir de amanhã, é pura invenção, mas também é um percurso divertido pelas nuances da história da arte.

Lapalu imaginou uma sociedade secreta de artistas que reuniria os maiores nomes da arte ocidental. Na narrativa fictícia, Rembrandt, Goya e Daumier estariam entre os membros e Pierre Menard, na verdade um personagem de um conto de Jorge Luis Borges, seria o curador da exposição em cartaz na Caixa. ;Na verdade, tudo isso é uma instalação narrativa;, avisa Lapalu. ;Misturo fatos da história da arte com fatos fictícios.;

As obras expostas na galeria são realmente objetos de arte, mas foram criadas pelo próprio paranaense. Ele pesquisou centenas de gravuras de artistas variados de diferentes épocas e, depois de digitalizá-las, fez com que se tornassem o mais semelhante possível a um trabalho de Cavalieri. ;Basicamente, meu trabalho como artista foi reconstruir essa estrutura narrativa contextual e fazer com que as gravuras se parecessem com as do Cavalieri, mas na verdade são colagens digitais minhas;, explica.

Primeiro, Lapalu construiu a história narrada na exposição com obras de artistas da época em que sugere a existência da sociedade. Em seguida, criou um texto curatorial e o atribuiu a Pierre Menard, o personagem de Borges. ;A ficção me surgiu como uma estratégia narrativa de misturar personagens da arte;, diz Lapalu. ;Essa narrativa histórica e institucional pode ser matéria de apropriação, assim como as gravuras. E coloco isso num contexto contemporâneo, um contexto em que se fala do fim da arte.; Ao se apropriar do discurso e das obras alheias, Lapalu pretende questionar a narrativa histórica e o próprio cânone da arte, já que Cavalieri existiu, mas nunca fez parte do Olimpo dos mestres. Contextos expositivos que remetem à história são temas constantes no trabalho do artista de 30 anos. Em O etnógrafo naif, ele criou um artista fictício, portanto inexistente, e se propôs fazer uma curadoria da obra do personagem. Questões como o que é arte e o que faz de um artista um artista pontuam a pesquisa de Lapalu.

A sociedade Cavalieri
Exposição de Pierre Lapalu. Abertura hoje, às 19h, na Caixa Cultural (SBS Q. 4 lts ;). Visitação até 3 de janeiro, de terça a domingo, das 9h às 21h.

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