Diversão e Arte

Alessandra Maestrini demonstra versatilidade no musical "Yentl"

Conhecida como a Bozena de "Toma lá dá cá", atriz se reinventa cantando

postado em 18/11/2015 07:30

Alessandra Maestrini revive personagem interpretada por Barbra Streisand

Em meio a tantas produções importadas, a atriz e cantora paulista Alessandra Maestrini fugiu do óbvio. Embora tenha optado por um musical ; o gênero mais lucrativo do panorama cênico atual ;, ela preferiu não sucumbir a sucessos óbvios e comerciais, como Chicago, O fantasma da Ópera ou My fair lady, por exemplo, e escolheu levar Yentl aos palcos, que desembarca hoje em Brasília.

Claro, trata-se de uma obra popular e conhecida mundialmente, principalmente por conta de Barbra Streisand, que protagonizou e dirigiu o filme de mesmo nome em 1983, mas de conteúdo mais intimista e provocações densas. Nada de entretenimento barato.

No enredo, baseado em peça de teatro homônima de Isaac Bashevis Singer e Leah Napolin, a garota Yentl perde o pai, que lhe conduzia por entre estudos e obras proibidas às mulheres da época, e se vê diante do desafio de se reinventar. De forma a manter o acesso ao meio intelectual, Yentl passa a se travestir e assume uma identidade masculina.

Nessa jornada, acaba se apaixonando por Avigdor (Mandy Patinkin), noiva de uma outra garota. A partir daí, a protagonista encara uma série de questionamentos relacionados a gênero, à sexualidade e à liberdade civil.

Entre lá e cá

Os temas que permeiam a trama não passam despercebidos nessa versão, que traz Alessandra Maestrini à frente, embora a montagem favoreça a marcante trilha sonora. Entre uma canção e outra, a atriz-cantora compartilha a história de Yentl e aproveita os ensejos para trazer algumas discussões à tona.

Apesar de uma longa carreira (prestes a completar duas décadas) na televisão e no cinema, Alessandra caiu nas graças do público ao interpretar a empregada Bozena no seriado Toma lá dá cá, e acabou tendo o currículo associado à comédia. Aos poucos, o espectador teve a oportunidade de conhecer a versatilidade da artista, que surpreende pela carga dramática e pela bela voz. Não à toa, Yentl em concerto vem de uma temporada de sucesso de crítica e de público. Na capital federa, não há de ser diferente.

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Entrevista: Alessandra Maestrini

Qual sua relação com o filme?
Assisti no final da adolescência e me tocou profundamente. Tanto pela beleza e contundência da história de Michel Legrand e da direção de Barbra Streisand, quanto pelas músicas sublimes de Michel Legrand. Entre uma música e outra, costuro o roteiro com a emoção, o humor, questionamento e encantamento que me causou entrar em contato com este conto, este filme e estes temas: o direito a questionar, o direito à identidade, seja de gênero ou qualquer outra, o amor, o direito ao amor, o feminino, o masculino, as individualidades, os sentimentos comuns a todos; o direito ao conhecimento; o poder e a liberdade a que este nos leva e nos permite; a essência por debaixo dos hábitos, dos figurinos, das normas sociais, da pele;

Como reage a comparações com Barbra Streisand?
Muito bem. As comparações são sempre as melhores possíveis. E sempre destacam o alto nível de qualidade e identidade única de cada uma.

Barbra, inclusive, sempre lidou bem com os ofícios de cantora e atriz. Sua carreira deve seguir esse mesmo caminho, de conciliar as duas expressões?
O faço desde a minha estreia nos palcos. Além disso, estar em cena não só como intérprete, mas concebendo o espetáculo é um prazer, uma liberdade e uma responsabilidade também, é claro. Assino a idealização, produção e direção, além de protagonizar o espetáculo como atriz e como cantora. Tenho como parceiro de cena o genial maestro João Carlos Coutinho ao piano que, literalmente, dialoga comigo e com o publico através da música e assina também a direção musical do espetáculo. Ainda assim, a batuta musical também está na minha mão (palavras dele). O ritmo e a densidade, pra onde vamos e com que levada; Este é um espetáculo também no qual, apesar de contar a história de uma personagem, estou despida de personagens. E mesmo de um texto fixo. É claro que, após algumas apresentações, o caminho a ser traçado já tem algumas previsões de passo a passo. Mas há esta liberdade para entrar e sair da história, mudar a maneira de contá-la e o enfoque a respeito desta ou daquela situação. Neste sentido, o espetáculo é um pouco standup. Não tem quarta parede. Meu diálogo é direto com o publico. E isto também é muito gostoso e especial. É muito íntimo. Seja numa sala para 60 pessoas ou em um teatro para 1.600. Porque há o espaço para sentir e exercer o momento. Estamos presentes.

Entre as canções, você compartilha algumas palavras sobre certos temas, como sexualidade e gênero. Qual a importância atual de falarmos sobre esses assuntos?

Total. Vide os direitos mais básicos da mulher que ainda temos que lutar para defender e a violência contra os homossexuais que também é absolutamente inadmissível. É importante e libertador poder falar de temas que nos tocam diariamente como estes. E, uma vez que se aborda qualquer assunto com respeito a si e ao outro e com a compaixão que nos permite rir e chorar em cumplicidade com todos os envolvidos, torna-se possível e até bastante prazeroso transformar certas situações, tanto externas quanto internas. Uma das respostas mais frequentes que recebo do publico quanto a Yentl Em Concerto é ;Eu estava com medo de vir porque os temas tratados são considerados pesados, delicados. Mas é tudo tratado com tanto humor e naturalidade que me causou uma leveza que há muito tempo eu não sentia. Há muito tempo eu não ria tanto! Ao mesmo tempo estou muito emocionado. Transformado mesmo. Estou de alma lavada. Obrigado!”

O Brasil vive uma onda de musicais importados, principalmente de apelo comercial amplo, o que não me parece o caso de Yentl. Como avalia a atual cena de musicais no país?
Somos o maior mercado de musicais da América Latina. Isto é um fato. E já somos considerados entre os maiores produtores de musicais do mundo, sendo também o país de mercado de musicais que mais cresce na atualidade. Ter um apelo comercial amplo é um dado positivo. Significa que o produto funciona, que a produção, elenco e criadores estão recebendo bem pelo seu trabalho e que este tem vida longa. Se pudermos aliar a isto um também amplo aspecto de transformação humana, questionamentos essenciais que o momento vivido pela sociedade exija, uma estética artística inovadora e que nossa alma e sentidos agradeça, tanto melhor. Assim se diferencia a Arte do artesanato. A cultura dos musicais nos EUA é muito mais antiga e portanto muito mais solida que a nossa. É natural e sadio que se beba da fonte mais rica para só então, como já acontece e cada vez mais agora, criar com mais qualidade e criatividade. Vejo novos autores, novos compositores, novos atores, cantores, bailarinos figurinistas, cenógrafos, produtores... todos muito mais bem preparados e cheios de vontade de assinar com brasilidade suas novas obras e produtos. O teatro, a televisão e a música também já começam a se sacudir diante de uma geração de artistas performáticos e de um público também mais bem preparado e que não aceita mais profissionais sem certo nível de preparo vocal, físico ou mesmo de uma disciplina de convivência mais consciente. Este cenário causa-me otimismo. Quanto ao mesmo cenário que, realmente, oferece em sua maioria histórias já criadas, já feitas e já montadas... este me causa borboletas no estômago e por isto eu crio uma cena nova e mais sedutora para o artista criativo e para o público sedento por novidades e que procura algo mais estimulante.

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