Quando Lucília de María del Perpetuo Socorro declamou nos Jogos Florais de Santiago, tradicional concurso literário chileno, os versos que mais tarde seriam imortalizados como seu primeiro grande poema, o Sonetos de la muerte, a plateia segurou o fôlego, atônita. O ano era 1914 e a jovem de 25 anos apenas começava a construir a lenda de Gabriela Mistral, pseudônimo com o qual foi imortalizada e que conquistou o Prêmio Nobel da Literatura em 1945 ; o primeiro concedido a uma obra de autoria latino-americana. Em comemoração aos 70 anos do acontecimento, o Instituto Cervantes de Brasília e a Embaixada do Chile no Brasil promovem a exposição Filha de um povo novo, que estreia em Brasília segunda-feira (23) e fecha as portas em 9 de janeiro de 2016.
Trindade, Tobago, Guiana, Estados Unidos, China, México - assim como Gabriela, a exposição Filha de um Povo Novo é cosmopolita e pretende desbravar galerias de todos os países pelos quais a escritora passou e que foram influenciados por sua poética e pelos trabalhos humanitários que desenvolveu nas Nações Unidas. ;Queríamos que o acontecimento tivesse repercussão internacional e que fosse traduzido em diferentes línguas, porque o interesse por Gabriela Mistral não se restringe a um povo;, explica o adido cultural da embaixada do Chile, Carlos Monge.
A mostra é constituída por 13 painéis com fotos históricas e textos do poeta Gustavo Barreira, que esmiuçam a trajetória da escritora no âmbito da poesia, do trabalho como educadora e da vida pessoal, que suscita polêmicas até hoje. Sensível à trajetória de Gabriela em cada um dos países que visitou, a exposição chega ao Brasil adaptada, com painéis que rememoram o período em que viveu no Rio de Janeiro, em Petrópolis. ;É preciso levar em conta que ela passou 6 anos aqui, como consulesa do Chile; que foi aqui que recebeu a notícia que havia ganho o prêmio Nobel e que se tornou amiga de personalidades como Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Cecília Meireles;, conta Monge.
Poesia polimórfica
A vida da poeta chilena mais famosa do mundo foi marcada, acima de tudo, por perdas. Os sonetos de la muerte, por exemplo, foram inspirados pelo suicídio de Romelio Ureta, noivo de Gabriela. A ausência do rapaz, porém, não foi o primeiro vazio que a escritora teve que enfrentar, pois foi abandonada pelo pai, um professor de descendência indígena, antes de completar 3 anos. Já no Brasil, a poetisa fez amizade com o escritor austríaco Stefan Zweig e sua esposa Lotta, em exílio durante a Segunda Guerra Mundial. Incapazes de se adaptar à nova nacionalidade, ambos suicidaram-se em 1942, em um caso que teve repercussão mundial. Pouco tempo depois foi a vez de Juan Miguel Godoy, apelidado Yin Yin, o sobrinho de 18 anos de Gabriela, tirar a própria vida.
;A obra de Mistral pode ser analisada sobre muitos ângulos. Aí consiste sua riqueza. Ela escreveu sobre as questões sociais da época em um discurso humanitário, recorreu ao misticismo, carregou alguns poemas de conteúdo erótico e, em outros, recorreu a Deus e aos santos;, revela o adido cultural, sobre as muitas formas que a literatura de Gabriela assume.
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Exposição Filha de um Povo Novo
Data: de 23 de novembro de 2015 até 9 de janeiro de 2016. Horário: segunda a sexta-feira, das 9h às 20h/ Sábado, das 9h às 15h. Local: Espaço Cultural do Instituto Cervantes de Brasília (SEPS 707/907 Lote D - Asa Sul) Telefone: 3242-0603. Entrada franca
Conversando em Espanhol ; Gabriela Mistral
Palestra com a professora Gilda Segóvia. Data: 25 de novembro, quarta-feira, às 11h. Local: Biblioteca do Instituto Cervantes de Brasília: (Seps 707/907 Lote D - Asa Sul). Entrada franca