Diversão e Arte

Ministro da cultura Juca Ferreira: "Nosso projeto de nação é pobre"

Em entrevista, Juca Ferreira lança o desafio: Brasília precisa ser a capital cultural do país

Igor Silveira, José Carlos Vieira
postado em 06/12/2015 09:14

Juca Ferreira negocia com o GDF a gestão compartilhada de espaços como o Teatro Nacional

;Todas as famílias políticas do país devem à cultura brasileira e ao povo brasileiro um reconhecimento em nível muito maior do que fazem agora;, adverte Juca Ferreira, ministro da Cultura, em conversa com o Correio. Mesmo sem perder a leveza baiana no discurso, usa palavras fortes para lamentar o pequeno orçamento com que trabalha à frente do MinC.

;Não acredito que o Brasil consiga enfrentar os desafios do século 21, tanto os internos quanto os da relação com o mundo, sem um desenvolvimento cultural, sem uma educação de qualidade. Vamos ficar chafurdando em crises;, alerta Juca Ferreira, um ex-militante estudantil que viveu exilado na Suécia, morando num coletivo de artistas e trabalhando de garçom, estivador... Período em que investiu nos estudos e no olhar crítico diante de pensamentos retrógrados tanto de direita como de esquerda. Nesta entrevista ao Correio, adiantou que negocia com o GDF uma gestão compartilhada para revitalizar espaços como o Teatro Nacional e o Museu da República. ;Brasília precisa ser também a capital da cultura do país.;

Fale um pouco de sua trajetória, dos tempos de militância, do exílio e da experiência de viver num coletivo artístico-cultural na Suécia.
Sou o filho do meio de uma família de cinco filhos, de classe média, meu pai era engenheiro construtor de estradas, e minha mãe, professora. Meu pai tinha o seguinte lema: ;Não vou deixar nada de bem material, mas darei a vocês uma formação cultural sólida;. Por isso, sempre estudei em bons colégios na Bahia. Quando jovem, entre os 17 e os 18 anos, eu era muito tímido, mesmo assim virei líder estudantil. Entrei para a escola técnica da Bahia para participar do movimento social. Pensava em ser arquiteto e cineasta. Fui eleito presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas no mesmo dia do Ato Institucional n; 5, e isso fez com que nunca assumisse o mandato. Com o AI-5, fui expulso da Escola Técnica. Passei no vestibular para história na Universidade Federal da Bahia, fui preso, acusado de pertencer a organizações clandestinas. Fiquei uns dias preso, depois fui para a clandestinidade. Morei um ano e meio no Rio; em seguida, rumei para o exílio. Entre preso, clandestino e exilado, se somaram 10 anos. A ideia de arquiteto e cineasta foi deixada de lado. Fui para o Chile, morei numa favela na época de Allende. Com o golpe de Pinochet, segui para a Suécia.



[SAIBAMAIS]E como foi a estada por lá?
Aproveitei para estudar. Mas também virei trabalhador braçal, auxiliar de cozinha, estivador, auxiliar de escritório, garçom... Mesmo assim, entrei na universidade. Era época da contracultura. A Europa me ajudou a recompor uma vida intelectual própria. Morava num coletivo na Suécia, com pessoas que buscavam um mundo alternativo. Tinha físico nuclear, médico... Pessoas bem-sucedidas que foram se radicalizando e ficando distantes da sociedade capitalista, de consumo, da alopatia... Foi uma vivência inacreditável para mim, um impacto para uma pessoa militante de esquerda dos anos 1970, como eu. A revolução na Europa era, em primeiro lugar, individual. Era o movimento social construindo coisas novas.



O que desse passado o senhor emprega até hoje?
Fui evoluindo, fazendo rupturas, mas recuperando o que há de bom em cada fase. E me assusta muito no Brasil pessoas que chegam aos 60 anos e viram conservadoras, reacionárias. É como se a chama tivesse apagado. Entre meus ídolos está Bertrand Russell, que, com mais de 80 anos, participava das manifestações contra a guerra do Vietnã. Oscar Niemeyer é outro exemplo de energia. Você não precisa morrer em vida.



Em que pé está a federalização do Museu da República?
Estamos conversando sobre isso, mas deveremos fazer uma gestão compartilhada do quadrilátero onde a República está instalada. O Teatro Nacional, a Biblioteca Nacional, o Museu da República e o prédio do Touring Club. Poderíamos criar nessta região uma gestão compartilhada, como ocorre em Washington. Precisamos agora determinar as responsabilidades e os montantes de cada lado, governo federal e GDF. Mas percebo que os gestores do museu não querem, porque temem que Brasília perca a autonomia. Acho o contrário: a cidade precisa ser, além da capital política, a capital da cultura do país. Para que todos os processos culturais do Brasil tenham reverberação em Brasília.

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