postado em 24/12/2015 07:30
Ironicamente, a crise fez bem ao artista brasiliense. Claro que o apoio de editais públicos e de recursos voltados para o fazer artístico ; como o Fundo de Apoio à Cultura (FAC) ; seguem fundamentais. Qualquer tentativa de vilipendiá-los precisa ser questionada. Mas, diante do quadro, tornou-se imprescindível a busca por novas formas de produção.
Assim, belos trabalhos chegaram ao público por meio de financiamentos coletivos ou através da boa e velha bilheteria, caso de O novo espetáculo (Tudo está à venda), do Grupo Tripé; e Mata! Mata! Mata-me, amor!, do Liquidificador. O Sesc, mais uma vez, teve papel fundamental na formação de plateia e colocou peças locais para circular, a exemplo de Adaptação, do Teatro de Açúcar, que roda o país em 2016.
Independentemente do patrocínio, o Distrito Federal responde por uma ótima safra no teatro em 2015. Seja por meio do multicolorido espetáculo Desbunde, pela poeira de Punaré & Baraúna, pelo humor inteligente de Uma vida impressa em xerox, pela interpretação emotiva de Maíra Oliveira em Quando o coração transborda ou ainda pela poesia de Miguelim inacabado, o espectador foi provocado por artistas dispostos a ocupar os palcos com o melhor das artes cênicas.
No âmbito nacional, a capital federal teve a oportunidade de esbarrar com o trabalho preciso de Christiane Jatahy, que abriu o Cena Contemporânea com E se elas fossem para Moscou?, na mesma medida que pôde se permitir instantes de mero entretenimento com a presença de Paulo Gustavo e Fábio Porchat, entre outros. Os principais destaques constam nesta lista do Diversão & Arte, que louva o a força do teatro local e abarca as expressões vindas de fora.
// DESTAQUES LOCAIS
Desbunde
O espetáculo purpurinado dirigido por Juliana Drummond e Abaetê Queiroz foi a grande sensação do teatro brasiliense em 2015. Depois de a estreia no fim do ano passado, o trabalho fez temporada na Funarte, em janeiro, integrou a programação do Cena Contemporânea e concorreu ao Prêmio Sesc do Teatro Candango. Sempre com casa cheia.
Em cena, o veterano Tullio Guimarães recebe a força do quarteto formado por Roustang Carrilho, Guilherme Monteiro, Kael Studart e Tulio Starling, que surpreendem o espectador pelo vigor físico e pela versatilidade cênica.
A vida impressa em xerox
Premiado e saudado pela crítica e pelo público, o espetáculo se firma como um dos trabalhos mais elogiados da recente temporada e agrada desde espectadores mais experientes até aos iniciantes.
Neste ano, a peça encarou apresentações concorridas no Teatro da Caixa e terminou 2015 levando quatro estatuetas do Prêmio Sesc do Teatro Candango, incluindo melhor espetáculo. Destaque para o trio de atrizes ; Ana Paula Braga, Luiza Guimarães e Mirella Façanha ; que arrasam na condução do divertido texto escrito por Marco Michelângelo.
Punaré & Baraúna
A Agrupação Teatral Amacaca ; ATA aparece como uma das inciativas mais férteis das artes cênicas em Brasília. Formada ainda no seio acadêmico, a companhia conta com a direção do oráculo Hugo Rodas.
Depois de Ensaio geral, o grupo voltou a chamar a atenção com Punaré & Baraúna, um relato contundente e lírico sobre a realidade sertaneja. Mais uma vez, a expressão física prevalece. Regido por Rodas, o elenco demonstra uma entrega incondicional a cada um dos personagens. Do coro aos protagonistas.
// DESTAQUE NACIONAL
E se elas fossem para Moscou?
De longe, a melhor peça a cruzar terras brasilienses este ano. O hibridismo proposto pela carioca Christiane Jatahy, entre o cinema e o teatro, provocou ávidos debates. Tanto a peça, como o filme apresentado ao vivo, geraram experiências arrebatadoras e absolutamente distintas ao espectador.
O espetáculo foi a grande sensação do Cena Contemporânea deste ano, que não conseguiu manter a força de edições anteriores, mas que será lembrado pela presença e pelas lições de Jatahy.
// FIQUE DE OLHO!
Matheus Trindade
O jovem ator, protagonista do excelente Miguelim inacabado, da Semente Cia. De Teatro, aparece como um dos representantes da nova geração de intérpretes do Distrito Federal. Apesar da tenra idade, Matheus mostra domínio de cena e não se abate com a responsabilidade que lhe foi atribuída. Não à toa, acabou indicado como melhor ator no Prêmio Sesc do Teatro Candango 2015.
Jonathan Andrade
Um dos mais renomados diretores de Brasília, Jonathan passou o ano envolto por pesquisa e ensaios. Levou o elogiado Autópsia para outras praças e se prepara para um intenso 2016, quando deve apresentar novas versões de textos de Plínio Marcos, além de participar de um projeto que leva o samba para o teatro, e que contará com as colaborações de Ellen Oléria, Sérgio Maggio, Chico Sant;Anna, Tulio Starling e Hugo Rodas.
Kamala Ramers
Atriz plurivalente, Kamala pôde ser vista no trabalho Mata! Mata! Mata-me, amor!, de Kael Studart, do Grupo Liquidificador, ao lado de nomes em ascensão do teatro candango, como a musa Karinne Ribeiro. No primeiro semestre, ela participou de Dois ou três dedos, da Andaime Cia. de Teatro, da qual faz parte. Espetáculos ousados e dispostos a quebrar o conservadorismo vigente, e que nos presenteiam com a pungência de Kamala Ramers.
// BOMBOU!
220 volts, com Paulo Gustavo
O animado Paulo Gustavo não pode reclamar do público brasiliense. Nas duas passagens por Brasília, este ano, os ingressos foram disputados. Tanto em Hiperativo, em agosto, como em 220 volts, agora em dezembro, o comediante encontrou um Centro de Convenções abarrotado. A cada apresentação, mais de 2 mil pessoas presentes. Sucesso que ele carrega desde Minha mãe é uma peça, que levou mais de 1 milhão de pessoas ao teatro.
Assista a um trecho de Uma vida impressa em xerox, com a estagiária mais querida da cidade (Luiza Guimarães, vencedora do Prêmio Sesc do Teatro Candango como melhor atriz de 2015):
Assista a um trecho de Uma vida impressa em xerox, com a estagiária mais querida da cidade (Luiza Guimarães, vencedora do Prêmio Sesc do Teatro Candango como melhor atriz de 2015):
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