Desde julho deste ano, Gabriel Estrela decidiu modificar o seu cotidiano e o de diversos outros jovens e adultos através da arte. O ator teve o diagnóstico de sorologia positiva aos 18 anos e hoje, aos 23, criou o projeto Boa Sorte para estimular o diálogo e promover a discussão a respeito do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e combater o preconceito em relação a quem convive com ele.
Depois do sucesso da temporada de estreia do musical homônimo ao projeto, no início de dezembro, a mais recente ação artística é um ensaio fotográfico que procura responder à pergunta: que abraço te dá sorte e que cor ele irradia? As fotos são feitas em parceria com a Fábrica de Teatro, que já produziu os ensaios Que gosto tem seu beijo? e Nu Objeto.
[SAIBAMAIS]
A ideia básica do projeto é desmistificar, através das fotografias de modelos com sorologia positiva e negativa, o corpo de quem vive com HIV. ;Ainda hoje, quando falamos em HIV vem à mente das pessoas o corpo de gente doente de Aids, e são duas coisas diferentes. Eu queria um projeto que pudesse transformar essa visão em um corpo afetivo, expressivo e não apenas científico, médico;, ressalta Gabriel. Para transmitir essa ideia, Josuel Júnior e os demais produtores da Fábrica de Teatro quiseram desenhar um conceito que fosse convidativo e leve. ;Assim surgiu a ideia de abraços que desejam boa sorte, não só para quem tem HIV, mas para todos nós, que precisamos de sorte na vida independente da situação;, conta o produtor.
Boa sorte, o ensaio, será lançado oficialmente em fevereiro, com exposição prevista para junho e recebeu uma média de 250 inscrições nacionais, de artistas e não artistas, pessoas com sorologia positiva e negativa. As 50 duplas selecionadas foram formadas de maneira aleatória e sem aviso prévio, todos se conheciam dentro do próprio estúdio. ;Acho que conseguimos um elenco muito misto, que deu uma cara ótima ao ensaio como um todo. E mais do que pensar a nudez como o ato de tirar a roupa, cremos que a proposta se baseia principalmente em despir-se do preconceito para vestir o abraço da informação e do afeto;, ressalta Josuel.
Depois da criação inicial, a direção das fotografias ficou por conta dos produtores Josuel Júnior e Tássia Aguiar, além do fotógrafo Daniel Fama, que teve a ideia de que as fotos partissem de um abraço e que misturassem modelos de sorologia positiva e negativa, até mesmo para preservar o sigilo daqueles que ainda não se sentem confortáveis em falar sobre a sua sorologia.
Abraço
;Nós pedimos que cada participante escrevesse previamente como representariam o seu abraço, se ele seria de carinho, acolhimento, afeto. Todo o processo de criação foi compartilhado, pois o ponto de partida eram os próprios fotografados;, conta Daniel. O fotógrafo afirma acreditar que a fotografia é uma poderosa ferramente para questionar e mudar a atitude em relação ao preconceito. ;A arte tem esse papel, pode fazer o outro pensar;, declara.
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Sobre o espetáculo musical
;Tivemos um feedback muito positivo! Uma parte importante do trabalho que fazemos é o acolhimento, então sempre ao final da peça eu recebia as pessoas para conversar, sem pressa, com muito carinho. Muitas pessoas positivas para o HIV me procuraram, pudemos conversar, algumas nunca tinham contado para ninguém, mas se sentiram confortáveis para falar sobre depois da peça. Esperamos que seja o começo de um movimento potente para enfrentar o estigma e o preconceito;. diz Gabriel Estrela.
Próximos passos
Gabriel quer apresentar mais temporadas e levar o musical Boa Sorte para outros estados, além de ter criado outros dois projetos paralelos à peça, para executar em 2016, sendo que um deles, tem foco para crianças de até 12 ou 13 anos e o diálogo com seus pais. O projeto já rendeu parcerias com o UNAIDS, um programa da ONU que revista o material produzido pelo grupo, e um trabalho com o UNICEF em uma ação para o Twitter.
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