Diversão e Arte

Banda formada por presidiários do Malaui é indicada ao Grammy

O primeiro disco do grupo, "I have no everything here" (Aqui não tenho tudo) foi lançado em janeiro do ano passado e foi indicado ao prêmio de melhor álbum do ano na categoria World Music

Agência France-Presse
postado em 12/01/2016 17:58
Zomba, Malawi - O cantor é um assassino, o baixista, um ex-ladrão e, junto com outros presidiários, eles integram a "Zomba Prison Project", uma banda muito particular formada em uma prisão do Malaui que surpreendeu ao obter uma indicação ao Grammy 2016.

"Ainda não estamos acreditando. Não pensávamos que um grupo de prisioneiros pudesse ser indicado" ao prêmio mais importante da indústria fonográfica americana, explica o baixista Stefano Nyerenda, de 34 anos, que cumpre pena de 10 anos por roubo.

O cantor Elias Chimenya foi condenado por assassinato e as letras das músicas são escritas por Thomas Binamo, um guarda prisional.

O primeiro disco do grupo, "I have no everything here" (Aqui não tenho tudo) foi lançado em janeiro do ano passado e foi indicado ao prêmio de melhor álbum do ano na categoria World Music.

"Quando ouvi a notícia, pensei: ;mas o que é um Grammy?;", lembra o encarregado dos prisioneiros do Malaui, Little Dinizulu Mtengano. Em seguida, correu para a prisão de alta segurança de Zomba, no sul do país, para dar a notícia aos detentos.

Os membros do grupo ficaram surpresos. "Estou muito feliz, é bom para o ânimo dos prisioneiros", explica Dinizulu Mtengano à AFP.

O impulsionador do projeto é um produtor americano Ian Brennan. Em 2013, passou duas semanas nesta prisão, trabalhando com 60 detidos e guardas para, ao final, selecionar 16 músicos para compor o álbum.

O resultado é um disco com 20 canções, a maioria em chewa, principal idioma local, gravados dentro da prisão em um estúdio improvisado situado ao lado de uma carpintaria barulhenta.

Algumas das músicas foram inspiradas na própria vida dos prisioneiros, com títulos como "I kill no more" (Eu não mato mais) e "Prison of Sinners" (Prisão de pecadores).

"A música me ajuda a relaxar e a aceitar a situação", afirma Elias Chimenya, de 46 anos, autor e intérprete de "Jealous Neighbour" (Vizinho ciumento).

"Espero que não morram na prisão", afirma este prisioneiro, condenado à prisão perpétua por um assassinato que cometeu nos anos 1980. "Eu gostaria de sair e começar uma carreira musical", desabafa de sua cela nesta prisão superlotada, onde vivem quatro mil detidos, apesar da capacidade para apenas 300.

Baldes para fazer música A prisão já contava com um grupo de músicos formado apenas por homens. Mas o álbum indicado ao Grammy inclui também mulheres, que diante da falta de instrumentos usam o que têm em mãos, como baldes e tubos.

"Quando os prisioneiros chegam aqui não sabem nada" de música, explica Thomas Binamo, o guarda que também escreveu as letras de algumas canções.

"Ensinamos a cantar, a tocar o teclado, a percussão e a guitarra até que se tornem músicos; a música pode aliviá-los", assegura.

O produtor Ian Brennan, que trabalhou em muitas prisões dos Estados Unidos, disse estar surpreso porque em Zomba "não há limites estritos entre detidos e guardas".

Também repudia as críticas pela voz dada aos criminosos. "Alguns detidos foram declarados inocentes e logo liberados. Mas alguns que trabalham no álbum estão aqui para o resto de suas vidas", explica.

Os músicos detentos receberam uma pequena quantia para gravar o álbum e dividem o lucro das vendas.

"A indicação ao Grammy é motivadora e nos tornou conhecidos no Malaui e lá fora", comemora Thomas Binamo, autor da letra de "Please, don;t kill my child" (Por favor, não mate meu filho).

"Levar o prêmio seria a cereja do bolo", afirma, enquanto os membros da banda, com seus uniformes brancos da prisão, ensaiam uma nova canção em um estúdio iluminado com uma única lâmpada.

Agora será preciso esperar até 15 de fevereiro para conhecer o veredicto dos Grammy em Los Angeles, uma cerimônia na qual os presos não poderão assistir, mas que talvez conte com a presença de alguns outros membros do grupo em liberdade.

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