Numa lista de indicados que segue certa convenção e regularidade, a 88; edição dos prêmios Oscar foi ligeiramente chacoalhada pelo despontar de surpresas e feitos entre as animações. Por mérito absoluto, o Brasil estará entre os indicados da festa marcada para 28 de fevereiro. Figura no rol dos cinco finalistas O menino e o mundo, do paulistano Alê Abreu. O representante brasileiro ; que já ganhou o Crystal Awards, atribuído ao filme mais relevante do festival francês de Annecy (que reúne papas da animação) ; competirá com o blockbusters Divertida mente, no páreo pelo melhor roteiro.
Bem identificado com vertentes do cinema do mestre Hayao Miyazaki, em que ;há um espaço sagrado no campo lúdico das crianças, respeitado pelos adultos;, como dito ao Correio, Alê Abreu competirá também com Quando estou com Marnie, título assinado por Hiromasa Yonebayashi, colega de Miyazaki. Como praxe, os candidatos a melhor filme (numa lista de oito) obtiveram o maior número de indicações: O regresso cravou 12 possibilidades de prêmios, enquanto Mad Max: A estrada da fúria desponta em 10 categorias, inclusive na de melhor diretor para George Miller (premiado, em 2006, pela animação Happy Feet).
Comédia com toques cínicos, A grande aposta chega com cinco candidaturas, entre as quais a de filme, o que dá chance a Brad Pitt, que não entrou na lista de ator coadjuvante, de levar a estatueta como produtor. Figurões da indústria cinematográfica, Steven Spielberg e Ridley Scott ficaram de fora da categoria direção, mas, como Pitt, podem ser premiados por serem os produtores, respectivamente, de Perdido em Marte (sete candidaturas) e Ponte dos espiões (seis indicações). Com igual número, Spotlight ; Segredos revelados entra na lista, no rastro de escândalo, ao claramente associar ação criminosa de padres e pedofilia. Esse filme expõe os talentos de Mark Ruffalo e Rachel McAdams, ambos indicados na categoria de coadjuvantes.
Recorde e distinção
Por fora, o megassucesso de Star Wars: O despertar da força rendeu cinco indicações ao Oscar. A maioria na ala técnica, mas com direito à ênfase para o recordista John Williams, compositor que chega à marca das 50 indicações. Uma das grandes surpresas na lista, junto com o reconhecimento tardio da inglesa Charlotte Rampling (na primeira indicação, aos 69 anos, por 45 anos) foi o rendimento de Brooklyn, selecionado para melhor filme e melhor atriz (Saoirse Ronin, novamente candidata, depois de Desejo e reparação), além de roteiro adaptado.
A Irlanda também abraça projeção pela inesperada indicação a melhor diretor de Lenny Abrahamson, à frente de O quarto de Jack, fita sobre um menino que se adapta ao mundo após um confinamento, e que rendeu indicação a melhor atriz para Brie Larson, vencedora do recente Globo de Ouro. Mas a competição será dura nesse segmento, pelas interpretações pré-selecionadas de Cate Blanchett (uma lésbica que desafia convenções em Carol, lembrado em seis categorias) e Jennifer Lawrence, na terceira parceria exitosa com o diretor David O. Russell, em Joy: O nome do sucesso.
Confira as chances
Um bis possível?
A possibilidade de dois bicampeonatos dificulta bolões de apostas. Premiado no ano passado por Birdman ou (a inesperada virtude da ignorância), o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu estaria cotado para novo prêmio? Na categoria de direção, só há dois casos de vitória consecutiva: John Ford (que venceu em 1941 e em 1942) e Joseph L. Mankiewicz, vitorioso em 1950 e 1951. Além disso a conjuntura não favorece Iñárritu, já que nenhum dos concorrentes obteve o Oscar de direção antes.
Sotaque latino
Além da presença do brasileiro Alê Abreu na prestigiada lista do Oscar, outras candidaturas sul-americanas podem ser festejadas: pela primeira vez na história, um filme colombiano, O abraço da serpente, concorrerá ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Mesmo na desfavorável conjuntura que sugere a vitória do húngaro O filho de Saul (vencedor do Globo de Ouro e bem premiado em Cannes). Na conjuntura de 2016, o chileno Gabriel Osório foi lembrado na categoria de melhor curta de animação, com História de um urso. Mexicano, na oitava indicação, Emmanuel Lubezki (O regresso) faz história entre os colegas diretores de fotografia. Um deles é Robert Richardson (na nona indicação), por Os oito odiados, e o outro é Roger Deakins, na 13; ocasião, por Sicario: Terra de ninguém.
Vitória mudará rumo do prêmio
Ainda no campo dos repetecos, a candidatura do ator Eddie Redmayne, um transexual em A garota dinamarquesa, pode ser ofuscada pelo seu próprio brilho, no ano passado, ao ter sido premiado por A teoria de tudo. Até hoje, apenas três intérpretes masculinos conseguiram o raro feito: Tom Hanks, Spencer Tracy e Jason Robards.
Eles têm tudo para ganhar
Retorno de peso no cenário do Oscar é o do coadjuvante Sylvester Stallone, em Creed ; Nascido para lutar. Para quem não lembra, com o mesmo personagem de Creed, Rocky Balboa, Stallone teve duas indicações para Rocky, um lutador (1977): ator e roteiro original. Numa categoria de fortes competidores, o veterano compete com Christian Bale (de A grande aposta) e Tom Hardy (astro de Mad Max com papel mais privilegiado em O regresso). Também um regresso muito insuflado é do octogenário Ennio Morricone, autor da contemplada trilha original de Os oito odiados, filme de Quentin Tarantino, na lista ainda pela performance da atriz coadjuvante Jennifer Jason Leigh. Inacreditável, que, ao 87 anos, e somando seis indicações, o parceiro de Sergio Leone nunca tenha levado Oscar, exceto o honorário, entregue em 2007.
Leo, será possível?
Entre todos os dilemas que pairam sobre a premiação, Leonardo DiCaprio é um caso à parte, ao ser candidato por O regresso. Na quinta chance de levar Oscar de interpretação (a via-crúcis começou, antes de Titanic, com Gilbert Grape ; Aprendiz de sonhador, em 1994), ele já virou até motivo de zoeira na internet. Pela frente, ele terá oponentes como Bryan Cranston, de Trumbo ; Lista negra e o alemão Michael Fassbender, candidato pela personificação de Steve Jobs. De certeza, DiCaprio tem o Globo de Ouro nas mãos.
Méritos pela inovação
Na sequência da boa projeção de filmes distribuídos pela plataforma alternativa do streaming, dois candidatos a melhor documentário engrossam o feito, em 2016: são What happened, Miss Simone?, em torno da pianista e cantora Nina Simone e Winter on fire: ukraine;s fight for freedom, focado na queda do presidente ucraniano.
Rebaixamento estratégico
Se muitos, antecipadamente, já entregariam a estatueta de melhor atriz coadjuvante para Kate Winslet, em Steve Jobs, está na hora de repensar o fato. É que, na calada da noite, duas candidatas saídas de múltiplas indicações a outros prêmios viraram a casaca: passando de atriz central para a concorrência como coadjuvante. É o caso de Rooney Mara, vendedora estimulada a viver amor longe da moralidade vigente dos anos 50 em Carol e a sueca Alicia Vikander, uma esposa pra lá de tolerante em A garota dinamarquesa.
Música para ser vista
Com direito até a indicação para melhor roteiro original do longa Straight outta compton (que introduz a gênese do hip hop do NWA), o Oscar busca se valer de ícones musicais renovadores, para atrair mais público. No páreo pela canção original estão figuras como Lady Gaga, com Til It happens to you, do documentário The hunting ground e Sam Smith, de Writing;s on the wall, saído da aventura 007 contra Spectre. Até a figura de Amy Winehouse se reafirma no imaginário do Oscar, com a seleção do documentário Amy, entre os melhores.