O cineasta Domingos Oliveira notou que gostava muito de escrever prosa quando terminou a autobiografia Vida minha, publicada em 2014. Quis provar novamente o gostinho de narrar uma história e embarcou em um romance. Finalizado e publicado, Antônio: o primeiro dia da morte de um homem fez o cineasta perceber quão frustrante é escrever um romance. ;Você não vê, como no teatro ou no cinema, as reações do espectador! Nem sabe até que ponto o leitor leu o livro, ou mesmo se leu. O contato com o leitor é enorme, porém o do leitor com você é mínimo;, constatou. ;E me parece uma atividade com um lado narcisista forte. Além do quê, dá muito pouco dinheiro, não atinge quase ninguém. Na verdade, não sei quem lê os livros.;
Mesmo assim, escrever a história de Antônio e seus affairs foi uma aventura. O protagonista é um homem de meia-idade às voltas com um fim de um casamento e prestes a administrar um triângulo amoroso. Também é um escritor cujo primeiro livro não parece publicável aos olhos dos editores. Antônio não desiste da literatura, assim como não desiste de viver suas paixões com Nádia e Manuela, sejam elas apropriadas ou não. Não é um alterego de Domingos nem mesmo um reflexo de qualquer desejo, mas é, segundo o autor, um habitante de seu próprio ser. ;A aventura mais interessante que encontrei foi justamente aquela de perceber, dentro de mim, personagens que minha memória não tinha a menor ideia de que estavam lá;, avisa.
Presente em toda a narrativa está Eduardo, amigo morto de Antônio, mas vivo na figura de um observador que não se furta em comentar as desventuras do amigo. Esse sim é um personagem resgatado da vida real, um amigo que Domingos perdeu no dia seguinte àquele em que escreveu as primeiras linhas do livro. ;Descobri também, com deleite, que a vida do dia a dia, o impacto do imaginado com o real que sempre me guiou e encantou em todos os meus filmes encontrava, ali na prosa, sua vocação como principal elemento criador;, conta. Antônio pode não ser exatamente o próprio Domingos, mas não há como escapar da vida real. A única forma de escrever, ele defende, é colocar na obra o cotidiano vivido.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.