Diversão e Arte

Após livro, Domingos Oliveira diz é frustrante não ter reação do público

'E me parece uma atividade com um lado narcisista forte. Além do quê, dá muito pouco dinheiro, não atinge quase ninguém. Na verdade, não sei quem lê os livros', afirma

Nahima Maciel
postado em 15/02/2016 08:11

'E me parece uma atividade com um lado narcisista forte. Além do quê, dá muito pouco dinheiro, não atinge quase ninguém. Na verdade, não sei quem lê os livros', afirma

O cineasta Domingos Oliveira notou que gostava muito de escrever prosa quando terminou a autobiografia Vida minha, publicada em 2014. Quis provar novamente o gostinho de narrar uma história e embarcou em um romance. Finalizado e publicado, Antônio: o primeiro dia da morte de um homem fez o cineasta perceber quão frustrante é escrever um romance. ;Você não vê, como no teatro ou no cinema, as reações do espectador! Nem sabe até que ponto o leitor leu o livro, ou mesmo se leu. O contato com o leitor é enorme, porém o do leitor com você é mínimo;, constatou. ;E me parece uma atividade com um lado narcisista forte. Além do quê, dá muito pouco dinheiro, não atinge quase ninguém. Na verdade, não sei quem lê os livros.;

'E me parece uma atividade com um lado narcisista forte. Além do quê, dá muito pouco dinheiro, não atinge quase ninguém. Na verdade, não sei quem lê os livros', afirmaMesmo assim, escrever a história de Antônio e seus affairs foi uma aventura. O protagonista é um homem de meia-idade às voltas com um fim de um casamento e prestes a administrar um triângulo amoroso. Também é um escritor cujo primeiro livro não parece publicável aos olhos dos editores. Antônio não desiste da literatura, assim como não desiste de viver suas paixões com Nádia e Manuela, sejam elas apropriadas ou não. Não é um alterego de Domingos nem mesmo um reflexo de qualquer desejo, mas é, segundo o autor, um habitante de seu próprio ser. ;A aventura mais interessante que encontrei foi justamente aquela de perceber, dentro de mim, personagens que minha memória não tinha a menor ideia de que estavam lá;, avisa.

Presente em toda a narrativa está Eduardo, amigo morto de Antônio, mas vivo na figura de um observador que não se furta em comentar as desventuras do amigo. Esse sim é um personagem resgatado da vida real, um amigo que Domingos perdeu no dia seguinte àquele em que escreveu as primeiras linhas do livro. ;Descobri também, com deleite, que a vida do dia a dia, o impacto do imaginado com o real que sempre me guiou e encantou em todos os meus filmes encontrava, ali na prosa, sua vocação como principal elemento criador;, conta. Antônio pode não ser exatamente o próprio Domingos, mas não há como escapar da vida real. A única forma de escrever, ele defende, é colocar na obra o cotidiano vivido.

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