Diversão e Arte

Roqueiros independentes fazem música contra o ódio

Artistas querem discutir a intolerância e levantar a bandeira da diversidade

Adriana Izel
postado em 17/02/2016 07:30

Dary Jr. traz um discurso politizado para a coletânea Temperança

Discursos de ódio, preconceito e intolerância costumam se alastrar pela internet tomados pela atual necessidade do usuário de opinar, mesmo sem conhecimento em muitos dos casos. Assustado com essa tendência, o músico radicado em Brasília e integrante da banda Dario Julio & Os Franciscanos, Dary Jr., saiu das redes sociais e, mais, decidiu tomar uma atitude para criar um debate em torno dessa situação: usar a música para promover um discurso contra a disseminação do ódio. ;Acho que a gestação do álbum vem de 2014, do período tenso da campanha eleitoral. Surgiram muitas manifestações de ódio, que contaminaram as relações pessoais. Antes das redes sociais, as pessoas tomavam mais cuidado ao emitir um juízo de valor. Diante disso, comecei a trabalhar algumas canções inspiradas nessa percepção;, explica Dary Jr.

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A ideia inicial era fazer um trabalho próprio, no entanto, o artista pensou em ampliar ao conversar com alguns amigos do cenário do rock independente, que tinham a mesma percepção. Assim surgiu a coletânea Temperança ; Um manifesto contra o ódio, que se consolidou em outubro e em dezembro o processo foi finalizado. O lançamento foi em janeiro, com a ideia do início de um novo ciclo. O álbum está disponível no Soundcloud e também para download no site Scream & Yell, apoiador da coletânea.

Brasiliense Habacuque Lima participa do projeto com canções autorais

Foram convidados 12 artistas de diferentes locais do Brasil: Camila Barbalho (PA), Fábio Della (MG), Diogo Soares (AC), Nico And Me (AP), CroonerDe (PR), André L.R. Mendes (BA), Bruno Sguissardi (PR), Beto Cupertino (GO), Marcelo Perdido (RJ) e Rafael Souza (PR). Além dos brasilienses Habacuque Lima, integrante da banda Ludov, e Edu Mazurca, da banda Cromonato e do projeto solo Laranja Label. Cada artista ficou responsável por compor uma música com a temática e também pelo processo de gravação. ;Nas músicas, cada um avalia o momento com as suas referências. Cada um construiu uma música, então o CD não é algo homogêneo. Há diferentes pensamentos, estilos, mas que mostram que segregar não leva a lugar algum;, analisa o idealizador do projeto.

A música de abertura é O outro, de Camila Barbalho. A canção da paraense toca exatamente nos confrontos de ideias nas redes sociais. ;O desejo do outro não é coisa de doente/ o outro não é burro porque pensa diferente/ enxergar, tocar, deixar ser, abraçar, tolerar, entender/ afinal, não somos nós o outro de alguém;, diz a letra da faixa. O encerramento do álbum fica por conta de Dary Jr. no formato de grupo Dario Julio & Os Franciscanos, com Enquanto você ri. ;O outro é uma espécie de cartão de visita. É uma música didática. Depois segue para o folk Minha rua, do Fábio Della, que chama o país de uma grande rua. Ainda tem Rinocerontes do (Diogo) Soares, uma música fantástica sobre esse comportamento de manada e faz uma referência à tragédia de Mariana (MG). O encerramento fica por conta da minha canção;, destaca Dary Jr.

Presença brasiliense

Apesar de não ser brasiliense, Dary Jr. se sente parte da capital. Antes de vir morar na cidade, há um ano, fazia parte da banda Terminal Guadalupe, que fez vários shows em Brasília ao longo da carreira. ;A gente sempre se identificou mais com Brasília, do que com Curitiba, por conta das referências. Sempre ouvi Plebe Rude, Legião Urbana;;, conta. Atualmente, Dary Jr. mora na capital e segue com a banda Dario Julio & Os Franciscanos.

Por conta da proximidade com a cidade, o projeto conta com dois artistas naturais de Brasília. Habacuque Lima, que atualmente mora em São Paulo e integrou o grupo Ludov, gravou E agora?, que trata de intolerância: ;Não vai João perder a razão do que não vale a pena/ lembra que você já esteve do lado de lá contando vantagem/ tentando emplacar sua vontade;.

Coube a Edu Mazurca, com o projeto solo Laranja Label, gravar Doce fel. Uma música que já estava em processo de composição antes do convite para a coletânea. ;Tocamos juntos em vários festivais e ele estava com essa ideia de lançar um disco sobre intolerância. Ele achou interessante chamar outros participantes. O bacana é que Doce fel curiosamente se encaixou dentro do tema;, afirma o músico, que atualmente retorna a banda Cromonato, que estava em hiato desde 2010, e retorna para gravação de um novo álbum.

Artistas querem discutir a intolerância e levantar a bandeira da diversidade
Temperança ; Um manifesto contra o ódio
Vários artistas. Scream & Yell, 13 faixas. Disponível no Soundcloud e para download gratuito no site www.screamyell.com.br.

Duas perguntas // Dary Jr.

Além dos convidados para a gravação das músicas, você fez um convite para o cartunista Bennett fazer a arte da capa do disco. Como surgiu a ideia de convidá-lo?
O Bennett é um cara muito ligado em música e ultimamente ele tem feito uma série de artes relacionada ao coração e ao sentimento. Essa interpretação dele me tocou bastante. Fiz contato, porque achei que tinha tudo a ver com a coletânea. Porque o amor define tudo. É um pensamento de mais amor, por favor.

Qual é a importância de trazer esse discurso para a música?
O rock tinha deixado de ser protagonista nos discursos. Essa é uma tentativa mesma que tímida e discreta de resgatar esse universo da música. Além de tentar trazer de volta esse protagonismo das bandas e dos cantores do rock nacional em relação aos questionamentos do país.

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