Diversão e Arte

Filme sobre aborto deve ter distribuição restrita por questões religiosas

Dirigido pela jovem Anne Zohra Berrached, filme '24 semanas' tem relação com a situação vivida por muitas mães grávidas no Brasil

Rui Martins - Especial para o Correio
postado em 18/02/2016 12:14

Berlim - O filme 24 Semanas, dirigido por uma jovem cineasta da antiga RDA comunista, Anne Zohra Berrached, terá sua distribuição comercial restrita, admitiu seu produtor no encontro com a crítica. O tema, o aborto, é tabu em numerosos países por questões religiosas, cristãs e muçulmanas, agravado por tratar de um aborto por questões médicas além dos prazos limites, na verdade quase perto do parto.

É a história de Astrid, uma atriz, espécie de one woman show, na Alemanha, mãe de um filho de nove anos, que trabalha junto com o marido produtor. Tudo começa com a alegria do casal diante da gravidez, mas nos exames de ecografia ficam sabendo que o bebê é portador do síndrome de down, trisonomia 21 ou mongolismo. O choque parece reunir o casal que, depois de muito refletir se considera capaz de assumir esse nascimento.

Mas a situação se agrava quando, em outra ecografia, se constata uma anomalia no coração ; o bebê tão logo nasça deverá passar por uma série de operações, dolorosas para o bebê e com resultados não garantidos. Depois de visitar uma maternidade, onde bebês prematuros e deficientes estão nas incubadoras,

Astrid fica em dúvida quanto à sua responsabilidade de deixar nascer um bebê condenado a uma existência anormal e limitada. E igualmente se o casal e seu filho de nove anos poderão suportar sem sequelas essa situação, além das consequências no trabalho, pois esse filho exigirá, dcurante toda sua vida, cuidados constantes e dedicação plena.

Primeiro sinal negativo, a babysitter do filho de nove anos se demite ao saber do próximo nascimento do bebê excepcional.

Na maioria dos países europeus existem dois tipos de abortos, o que se pode fazer por decisão voluntária da mãe até as 12 semanas e o aborto por questões médicas, chamado de interrupção médica da gravidez, sem um limite definido mas sujeito à comprovação dos problemas de formação do feto.

A indecisão de Astrid provoca crise no casal, pois o marido julga serem capazes de enfrentar juntos esse desafio. Astrid, finalmente, é mais realista e opta pelo aborto do feto já formado e quase a termo para o parto. Neste caso, o aborto exige a interrupção da vida do feto por uma injeção que atravessa a placenta e se aplica na cabeça, causando morte instantânea. A seguir, a mãe tem um parto induzido.

Coincidentemente, o filme é bastante atual para a situação vivida por muitas mães grávidas brasileiras portadoras de bebês com microcefalia em gravidez avançada. Na Alemanha, 98 % das mães decidem abortar quando se constata qualquer anomalia ou deficiência no feto.

Para a realizadora Anne Zohra Berrached, o tratamento da questão do aborto é mais realista, pois foi criada na antiga Alemanha oriental, onde o governo marxista, desvinculado de religiões tinha legalizado e garantido o aborto em qualquer situação, se a mãe assim desejasse. O mesmo não acontece na Polônia, país vizinho, onde a probição do aborto foi reintroduzida por pressão da Igreja católica. No Brasil, além dos católicos e evangélicos, também os espíritas condenam o aborto.

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