A fachada do Castelo Sforzesco, um dos prédios históricos mais importantes de Milão, ficou lotada de fãs, intelectuais, escritores e leitores à espera da chegada do corpo do escritor Umberto Eco, na tarde de ontem. Morto na noite de sexta-feira, aos 84 anos, o autor de O nome da rosa e O cemitério de Praga foi velado no templo da cultura milanesa. O Castelo Sforzesco, que Eco costumava observar da janela de sua própria casa, data do século 15 e abriga uma das mais importantes coleções de arte da Itália, com obras de artistas como Michelangelo e Antonello de Messina. Reservada à família, a cerimônia de cremação estava prevista para o fim do dia e deveria, conforme orientações da família, ser estritamente laica para respeitar a própria laicidade do escritor.
Uma fila com milhares de pessoas se formou nos jardins do castelo para o último adeus a Umberto Eco. O caixão foi coberto com flores e, ao lado, foi pendurada a toga da Universidade de Bolonha, na qual o escritor deu aulas por mais de 41 anos. A música La follia, de Archangelo Corelli, que o próprio escritor costumava tocar com uma clarineta, foi executada enquanto os visitantes se despediam. O corpo de Eco foi aplaudido ao passar pelo portão da casa na qual morava, próxima ao castelo. Quem fez o discurso de despedida foi Mario Andreose, espécie de curador editorial do autor durante toda a vida.
Segundo a vigilância pública de Milão, mais de mil pessoas aguardavam fora do castelo para tentar entrar no jardim Rocchetta, no qual foi realizado o velório. Nem todos conseguiram entrar, já que a capacidade do local é de 800 pessoas. Na fila, artistas como o diretor Roberto Begnini e a mulher, a atriz Nicoletta Braschi, aguardavam para se despedir do mais importante autor e intelectual italiano da segunda metade do século 20. ;Pessoas tão essenciais como ele são menos comuns na terra, o céu está cheio de pessoas belas e perder uma pessoa assim é uma grande dor;, disse Begnini, em entrevista à Repubblica TV.
O presidente da República italiana, Sergio Mattarella, enviou uma coroa de flores. Os ministros dos Bens Culturais, Dario Franceschini, e da Edcuação, Stefania Giannini, também compareceram ao velório, assim como o reitor da Universidade de Bolonha, Francesco Ubertini. Durante o velório, Elisabetta Sgarbi, parceira de Eco na recém-fundada editora La nave di Teseo, mostrou uma edição do esperado Pape Satàn Aleppe, o último livro do escritor, programado para chegar às livrarias italianas no próximo dia 26. ;Foi um homem supremo e completo;, disse Elisabetta, em entrevista ao jornal Repubblica. ;Agora vamos entender sua grandeza.;