Diversão e Arte

Confira entrevista com o dramaturgo Thales Paradela

Nahima Maciel
postado em 05/03/2016 06:53
Ao longo de uma hora, a pequena Sara precisa enfrentar alguns de seus maiores medos. Para isso, ela conta com a ajuda da imaginação e da metáfora, dois poderosos aliados quando se trata de tentar compreender o mundo. Assim, a menina de 11 anos vai embarcar na construção da própria subjetividade após receber convite do menino mais popular da escola para encenar um musical. O ator e dramaturgo Thales Paradela pensou na história enquanto percorria os 800 km do caminho de Santiago de Compostela. Para distrair os companheiros de caminhada que desanimavam, ele inventava histórias nas quais os próprios peregrinos eram os personagens. Superação e autoconhecimento vinham à tona nos momentos mais difíceis e isso foi transposto para a peça Um caminho para Sara, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) a partir de hoje.

A montagem dirigida por Fernando Guimarães traz ao palco 14 alunos de artes cênicas da Faculdade Dulcina de Moraes em um musical pensado para as crianças. O texto de Paradela foi um dos três vencedores do 7; Brasil em Cena, concurso idealizado pelo CCBB para mapear a nova dramaturgia brasileira. Quando imaginou a peça, o autor já pensou na narrativa em formato de musical, mas é, sobretudo, a estrutura de fábula que marca o texto de Um caminho para Sara. O gênero, Paradela acredita, permite ampliar a possibilidade de representar a realidade.

Qual o lugar da dramaturgia infantojuvenil hoje na cena brasileira?
Acho carente. Minhas referências de criação são Saltimbancos, Plunct plact zum, alguns musicais infantis do Vinicius de Moraes, da Globo, como Arca de Noé. Tudo isso a gente via na Globo, em horário normal. A Globo acabou com a programação infantil. Tem zero hoje. Tanto que fiquei preocupado de usar esse tipo de poesia para criança. Pensei se não ficaria muito rebuscado. Aí, peguei meus disquinhos e fui ver o que eu ouvia com 8, 9 anos e o que nunca esqueci. Era Chico Buarque, Vinicius de Moraes, e isso não tem que tutelar. Na metade dos anos 1980 para 1990, a Xuxa transformou música infantil em aula de aeróbica. Isso virou uma coisa industrializada. Você abre o jornal e tem 10 peças infantis simultâneas, mas quantas são histórias originais brasileiras? Poucas. Tem mil montagens de Cinderela, Peter Pan, clássicos ou franquias Disney, Frozen. Socorro! Ok, elas têm um linguagem universal. Mas não são bons. Produção de história original para criança no teatro, tem pouca.

Isso não é um reflexo do que é a sociedade brasileira hoje?
Acho difícil discutir o que virou a sociedade brasileira. Mas se a gente pensar o que virou a produção cultural de mídia de massa na sociedade brasileira, é um pouco mais fácil. A gente está num universo melhor e isso, em algum momento, para a produção em série virou uma outra forma de estrutura. O Xuxa só pra baixinhos é o número 18. Não dá pra fazer 18 Plucnt, plact, zum, é uma história profunda. Se vai virar 18, vira uma franquia, vai criando uma história de reprodução industrial de escala e vai perdendo a poesia.

Houve uma industrialização mais intensa da cultura?
Acho que tem a ver com a forma de processo de indústria cultural de massa. Você pega Maria Clara Machado e toda a dramaturgia que tem no Brasil; é uma boa dramaturgia, temos bons livros de criança, e não é Talita Rebouças. A indústria forja a sociedade ou a sociedade forja a indústria? São relações multilaterais o tempo todo, mas acho que tem uma discussão sociológica profunda. Acho mais fácil discutir isso no nível da produção cultural: tem uma produção industrial de cultura que tem que ter uma escala e, para atingir essa escala, dá uma tutelada na experiência e vai simplificando.

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