Há um momento no filme de terror Boa noite, mamãe, estreia de hoje nos cinemas, em que dois irmãos gêmeos parecem protagonizar um transe infernal. Não poupam nem a mãe, numa escalada de atrocidades que até justificaria a arcaica expressão de ;criança endiabrada;. Selecionado para o Festival de Veneza, o longa austríaco, assinado por Severin Fiala e Veronika Franz testa limites do bom gosto, à medida que os personagens Lukas e Elias investem em agressões pesadas contra a mãe interpretada por Susanne Wuest.
Com uso de máscaras em cena, as crianças parecem ter carta branca para apresentar nova personalidade, depois de, isoladas numa casa de campo, sofrerem bullying materno. Boa noite, mamãe é daqueles filmes de impacto (chegou a ser pré-selecionado para o Oscar), que despertam discussões sobre limites para as crianças ; muitas vezes retratadas, sem piedade, nas obras de cinema.
Nascidos no mesmo país do violento cinema de Michael Haneke (A fita branca e Funny games), Lukas e Elias fazem as maiores porcarias infantis: criam besouros agigantados, ;velam;, em casa, um gato morto, desafiam limites em sessões de tapas na cara, mas, igualmente, superam expectativas: queimam o rosto da mãe que ainda tem a boca colada por ambos.
Também na linha de construção de personagens com identidades postas à prova, o terror A bruxa ; em cartaz em Brasília (leia crítica) ; se multiplica pelo mundo (a renda já ultrapassou US$ 21 milhões) os US$ 3,5 milhões de investimentos na fita, rodada no Canadá e coproduzida pelo brasileiro Rodrigo Teixeira (de O cheiro do ralo). Um berço vazio, diante do sumiço de um bebê; uma família em frangalhos, que tem entre os integrantes a filha de nome Piedade, e o acúmulo de infortúnios, entre sessões de rezas sobrepostas e lamúrias, são alguns dos elementos da fita de terror em que as crianças são responsabilizadas por desgraças. Quem assina o filme é Robert Eggers, premiado pela melhor direção no Festival de Sundance.
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