Se a poesia visual contemporânea brasileira tem uma cara, ela é a da diversidade. Não há temas ou formas que a descrevam, mas há caminhos pelos quais a única diretriz é a liberdade. A rigidez de movimentos como o concretismo e o neoconcretismo ajudou a construir uma vanguarda na poesia visual brasileira, mas, para a maioria dos poetas contemporâneos que transitam entre os versos e as artes plásticas não faz mais sentido falar em compartimentos.
Um pouco para mapear essa produção, o pesquisador Alberto Saraiva criou o Programa Poesia Visual, que leva ao Oi Futura, em Ipanema (Rio de Janeiro), um espaço para exposições de poesia visual realizada por poetas contemporâneos. São cinco anos de exposições individuais, pesquisas e discussões em torno do que seria a atual poesia visual brasileira. ;As fronteiras se acabaram entre as formas de poema, hoje o poeta pode ir para um lado ou outro, não tem mais essa ideia do lado de lá ou do lado de cá. O que existe são pessoas livres, você vê isso na nova geração, dos 10 últimos anos;, explica. ;Eles pensam sempre em poesia como uma arte do mundo, do cotidiano, que não tem problemas em lidar com o objeto, o texto escrito, o texto oralizado ou simplesmente ideias sobre poesia. Isso é muito inédito porque nossa tradição de visualidade com a poesia é única no mundo.;
Nesse cenário citado por Saraiva, alguns nomes ganharam destaque. Para o carioca João Bandeira, o traço comum na poesia visual contemporânea é o fato de manter o código verbal presente na produção. Mesmo que se afaste e trabalhe no limite entre a palavra e a visualidade, é preciso haver a presença da escrita para que a obra seja considerada poesia. ;A partir daí, o que se verifica em termos formais é uma variedade potencialmente infinita de realizações. E ainda bem;, comemora o poeta, autor do recém-lançado Quem quando queira, uma volta ao suporte livro depois de anos experimentando poesia em outros meios como a música, leituras públicas, exposições e performances. Bandeira não acha que valha a pena falar da visualidade na poesia como um gênero poético. ;Dadas as condições atuais, é melhor que a poesia ;visua; se imiscua no ainda mais amplo universo da arte contemporânea, o que, aliás, vem acontecendo cada vez mais, potencializando bastante a sua circulação;, garante. Para ele, poesia visual é apenas um modo de fazer poemas, como tantos outros.
Desacomodar
Omar Salomão também encontrou na aproximação com as artes visuais uma alternativa para a pesquisa poética. Autor de Impreciso e À deriva, ele revela que ampliou a própria escrita no sentido de entender a poesia como ;uma forma de ver;. ;Acho que a poesia é uma forma de enxergar as coisas, de desacomodar. Naturalmente, foi um caminho que me levou para esse lado das artes plásticas justamente por trazer uma liberdade estética maior. Muita gente que trabalha com poesia visual hoje passa por esse lado;, garante.
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