Literatura e games podem parecer mundos muito distantes e é certo que alguns puristas ainda se recusam a aceitar que jogos influenciem a produção literária. Jovens autores brasileiros, no entanto, mostram que a combinação dá certo e que a geração formada com joysticks na mão pode escrever livros consistentes e elogiados. ;Esse intercâmbio amplia a capacidade comunicativa das mídias, gerando novos desafios e conceitos para os artistas;, explica a pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo Adriana Falqueto Lemos, que estuda essa relação.
Gamer assumida, a escritora Simone Campos (semifinalista do prêmio Oceanos em 2015) lançou o primeiro livro aos 17 anos. Hoje, aos 32, ela conta que pode ser ;flagrada frequentemente; jogando e pesquisa as diferenças entre as duas áreas no doutorado que faz na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O tempo dedicado aos videogames, desde mais nova, não atrapalhou a escrita da autora. Pelo contrário, eles foram e continuam sendo uma grande fonte de inspiração para ela.
A obsessão atual, The binding of Isaac - Rebirth, lhe rendeu um artigo (à espera de aprovação por uma revista). No texto, ela escreve sobre as relações da história do protagonista (um menininho que foge da mãe abusiva) e o conceito amor fati (amor ao destino, em latim) do filósofo alemão Friederich Nietzsche.
Antes disso, a paixão pelos games já tinha a motivado a escrever o livro Owned (publicado em 2012). ;Eu adorava videogames e literatura, decidi juntar os dois. Aproveitei para falar de uma coisa que quase ninguém falava quando idealizei o projeto: mulheres e cultura nerd;, lembra. A obra é uma narrativa híbrida, livro-jogo em que as decisões do leitor influenciam a direção e o resultado da trama.
Ela faz questão de lembrar que, apesar da proposta ousada, seguia uma tradição iniciada por outros autores. ;É uma tradição que vai desde o Oulipo e Cortázar até Steve Jackson (dos livros Escolha a sua aventura). Só fiz continuar, botar meu grão de areia na pirâmide;, ressalta.