Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 29/03/2016 07:30
O Cinecal foi criado com o objetivo de ampliar e facilitar o acesso dos brasilienses a filmes tradicionalmente fora do circuito comercial, incentivando o debate e a reflexão por meio da sétima arte. Além das mostras mensais que ocorrem no auditório da Casa de cultura da América latina (CAL/UnB), o projeto conta com edições no Museu da República e no dia 1; de abril trará a primeira edição de 2016, com a exibição do filme Jardim das folhas sagradas.
Ao unificar as temáticas das mostras de filmes de março, cujo tema foi a intolerância, com a de abril, que abordará o universo das religiões, a exibição do filme será seguida por um debate com convidados que estudaram, refletiam ou vivenciaram essas questões na sociedade. O momento de conversa contará com a participação do diretor do filme, Pola Ribeiro, além do cineasta Renato Barbieri, Adna Araújo, da Fundação Palmares, Michael Félixa, da Federação de umbanda e candomblé do Distrito Federal, entre outros nomes.
O longa conta a história de Bonfim, um bancário negro e bissexual, casado com uma evangélica, e a trama se constrói em Salvador. Tendo recebido a missão espiritual de fundar um terreiro de candomblé, Bomfin terá de enfrentar a especulação imobiliária, o preconceito racial e a intolerância religiosa. A temática das mostras muda a cada mês e Tom Maranhão, idealizador do projeto, lembra que o mais importante é possibilitar esse espaço de reflexão para o público, mostrando a possibilidade de criar conexões e movimentar ideias através da sétima arte.
O cineasta Renato Barbieri acredita que levar esses temas para a arte tem grande importância, já que por meio de debates mais amplos as pessoas têm a possibilidade de rever seus preconceitos. ;A arte tem um papel fundamental na difusão e na abertura desses canais de debate e na possibilidade de rever conceitos. O jardim das folhas sagradas trabalha esses temas com muita força e muita verdade;, afirma.
Barbieri lembra que o diretor Pola Ribeiro teria sido um dos pioneiros a trabalhar essa temática de maneira tão ampla e próxima, mostrando o interior de um terreiro e as questões de ancestralidade, temas ricos para a cultura brasileira. ;Essas questões estão muito presentes no nosso cotidiano, já que moramos no Brasil, um país onde a diversidade é enorme em todos os quesitos. Muitos brasileiros têm mais de uma religião, a miscigenação é grande e, ainda assim, nós vemos muita intolerância e intransigência;, afirma o cineasta, que acredita que esse debate deve ser permanente no país, para que as conquistas em relação a convivência pacífica entre os diferentes, seja sempre crescente.
Adna Araújo, também conhecida por Mãe Baiana, coordenadora de comunidades de matriz africana de terreiro da Fundação Cultural Palmares, também participará das discussões a respeito do longa no museu. ;É importante falarmos dos avanços e das políticas voltadas para a questão do negro no Brasil, além da questão da intolerância não só religiosa, mas em todos os sentidos. O preconceito e o racismo são pontos cruciais que precisam ser modificados nos dias de hoje;, observa a coordenadora.
Adna lembra que vive essas questões diariamente, defendendo a causa do negro e da cultura na sociedade. A intolerância religiosa no Distrito Federal será mostrada também por meio da exposição do fotógrafo brasiliense Luiz Alves e quatro artistas locais farão uma intervenção antes da exibição começar.
Jardim das folhas sagradas
Exibição do filme no projeto CineCal no Museu da República, em 1; de abril, às 19h. A exibição será realizada no auditório 2 do museu, com entrada franca e classificação indicativa livre. Informações pelo telefone da CAL: 3321-5811.