Diversão e Arte

Magno Mello lança livro na Livraria Cultura

Primeira obra do escritor, 'Trustália' fala sobre a era da informação

postado em 05/04/2016 07:33

O autor do livro 'Trustália', Magno Mello trata de uma

Uma luz amarela surge em um pequeno povoado e a vida dos habitantes muda completamente. Depois desse episódio, as pessoas passam a ouvir pensamentos alheios. Esse é o principal conflito de Trustália, primeiro romance de Magno Mello. A narrativa fala do impacto da era da informação por meio da metáfora de um fenômeno que transforma a rotina de uma pequena cidade. O livro, que será lançado hoje, também questiona valores morais, hipocrisias presentes nas relações cotidianas, inverdades oficializadas e até mesmo tornadas sagradas.

Magno explica que a história não tem caráter místico. Mesmo o aparecimento da estranha luz amarela, que surge apenas uma vez e desaparece em questão de segundos, é algo que permanecerá inexplicado. E, de acordo com o autor, tampouco tem centralidade filosófica. O objetivo é trazer à luz conflitos psíquicos do indivíduo, que, no entanto, são exibidos muito mais pelo ato que por meio de questões semânticas. Nesse sentido, há uma série de episódios pitorescos, dramáticos, tragicômicos, românticos, eróticos e, não raras as vezes, violentos. A perspectiva puramente imagística é também explorada, havendo descrições que tentam, acima de tudo, captar detalhes mínimos, porém relevantes da cenografia e dos gestuais.

Apesar de a trama possuir certa complexidade, especialmente pelo número de personagens que têm suas psiquês devassadas e suas vidas inusitadamente entrelaçadas, a linguagem é quase sempre simples e objetiva, embora também apresente refinamentos estilísticos. A ideia de desconstruir as personalidades ao limite dá ao livro um viés quase distópico. Nenhum caráter permanece intacto. Mesmo a maldade é relativizada, quando o antagonista apresenta razões concretas para ser quem é.


De acordo com Magno Mello, a ideia de falar de uma quase distopia veio da lembrança de uma crítica da filósofa Hannah Arendt, ao dizer que o erro de Kant, Nietzsche e Kierkgaard, ao colocarem abaixo as ;verdades sagradas;, cada um a sua maneira, era justamente tentar colocar outras verdades no lugar. ;Hoje, os signos humanos estão cada vez mais abertos e vêm perdendo o status de verdade absoluta. Uma camada cada vez maior da população vem se dando conta de que os símbolos sempre foram apenas invenções humanas, geralmente tendenciosas ou, simplesmente, puros achismos impostos por um pequeno grupo, primeiro pela coerção, pelo medo, depois pela propaganda, que também possui suas estratégias de coerção. O próprio consumismo é um desses símbolos, que agora está ameaçado. Enfim, o mundo, como o conhecemos, está se desmoronando;, explica.

[SAIBAMAIS]O autor esclarece que, por causa disso, o mundo jamais recairá em uma distopia completa. Como exemplo, ele menciona a polarização exagerada na política e o radicalismo religioso, que ocorrem em todo o planeta. ;Parecem-me posturas de pessoas ainda tentando se agarrar a alguma grande verdade. Temos pavor do vazio, do silêncio, da coisa tal como ela é, por isso precisamos de utopias. De qualquer modo, mesmo que tenhamos medo do contrário, a ausência de símbolos não significa a ausência de sentido.;



Trustália: Uma quase distopia
De Magno Mello. Chiado Editora, 258 páginas. Lançamento. Nesta terça (5/4), às 19h. Livraria Cultura ; Shopping Iguatemi (CA 4, Bl. A, Loja 101 ; piso de loja) ; Horário: das 19h às 21h30.

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