O professor, ensaísta e poeta Cassiano Nunes (1921-1987) aterrissou em Brasília graças a uma conexão modernista. Ele morava em Nova York, mas tinha vontade de retornar ao Brasil e comentou sobre o projeto com o amigo e poeta Carlos Drummond de Andrade. Quinze dias depois, Cassiano recebeu uma correspondência de Drummond com o convite: ir para Brasília. A negociação foi costurada pelo escritor Cyro dos Anjos, que morava na nova capital do país e conseguiu uma vaga de professor na Universidade de Brasília. Já estávamos em pleno regime militar, mas Cassiano se aclimatou plenamente á aspereza do planalto e se tornou brasiliense. A obra poética de Cassiano Nunes acaba de ser publicada sob o título Poesia -Obra reunida (Ed. Thesaurus), com organização da professora Maria de Jesus Evangelista.
A professora Maria de Jesus Evangelista situa a poesia de Cassiano na tradição da lírica tradicional portuguesa e na tradição modernista brasileira. Ela é guardiã do acervo de mais de 17 mil obras da biblioteca do poeta, doados à Universidade de Brasília, organizadas no Espaço Cassiano Nunes, situado no subsolo da Biblioteca Central da UnB: ;Esse acervo representa não só a vivência de um grande intelectual devotado às letras, mas também à documentação de um grupo importante de intelectuais modernistas do início do século 20;, comenta Maria Evangelista.
Cassiano era amigo de Oswald de Andrade, de Mario de Andrade e de Carlos Drummond de Andrade e de Mario da Silva Brito, o mais importante historiador do movimento. Cresceu e conviveu com duas gerações brilhantes do modernismo brasileiro e, ao mesmo tempo: ;Ele tem impregnado em sua essência essas duas tradições;, comenta Maria Evangelista. ;Ao mesmo tempo ele cria o código da poesia cassianaina, subjetiva, existencial e experimenta também as formas de expressão do verso na língua portuguesa. Ele domina com a maior naturalidade as suas influências e cria um estilo próprio. Desligava-se de quaisquer peias de estilos ou novidades. Ele tem uma poética singular. Cassiano tem uma pequena, porém densa, fortuna crítica. Mas a poesia dele é excelente e ainda está à espera que os grandes críticos reconheçam o seu valor;.
Busca da linguagem
Em profissão de fé, Cassiano discorre sobre a busca de uma voz própria na poesia, dividida entre a tradição parnasiana, a romântica, a portuguesa tradicional e a modernista: ;Eu sempre fui poeta embora sem saber/pois, no momento da inspiração,/Queria vestir a Musa à maneira romântica,/e., dura, ela repelia a saia-balão./Eu sempre fui poeta, mas com tão pçouco jeito/que no instante do paroxismo/deixava cair no chão o catamartelo/e quebrava o marmor do parnasianismo.; No entanto, aos poucos, ele entra em sintonia e consegue falar com a própria voz: ;Mas ao usar a minha própria linguagem,/vi, nítida, a Beleza no pátio do Dia/desde então, cada ideia que tenho é uma imagem/e cada canção é a Poesia!”.
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