Alexandre de Paula
postado em 10/04/2016 07:35
O heterônimo de Fernando Pessoa Alberto Caeiro escreveu, certa vez, que queria ;as coisas que existem, não o tempo que as mede;. Por isso, talvez a publicação de uma biografia em quadrinhos do poeta português importe mais do que os 10 anos que ela levou para ser produzida e os outros três até chegar a publicação. O fato é que, independentemente de quanto levou, aí está, em banda desenhada (como os portugueses chamam as HQs), a vida do homem que encarnou em si tantos outros nos traços de Miguel Moreira e nas cores de Catarina Verdier.
As aventuras de Fernando Pessoa, escritor universal, recém-publicado em Portugal, chega ao mundo com uma coincidência curiosa. Responsável pela edição da biografia, a Parceria A M Pereira é a mesma editora que, em 1934, publicou Mensagem, único livro lançado em vida por Fernando Pessoa. A biografia, segundo Moreira, foi consequência do interesse pelo poeta e do desejo de produzir quadrinhos ;a sério;. ;E de achar que Fernando Pessoa daria uma boa personagem de quadrinhos e, finalmente, de achar que, se de uma biografia se tratasse, a história acabaria por poder interessar a mais pessoas do que só a mim e a uns quantos amigos;, conta o autor.
A linguagem dos quadrinhos fez com que Moreira tivesse que ir além da apresentação de dados biográficos e encontrasse uma maneira de contar a vida do poeta português. ;Obrigou-me de certa forma a romancear a biografia de Fernando Pessoa, um exercício perigoso e que já deu maus resultados aqui em Portugal;, conta. Apesar da dificuldade, ele acredita que foi útil fazer isso para os períodos da infância, da adolescência e do início da vida adulta sobre os quais há bem menos informações.
O processo de imprimir cor aos desenhos de Moreira impôs dificuldades, já que todos os registros da época são em preto e branco. ;O mais difícil para a Catarina Verdier foi escolher a paleta de cores para retratar uma época que conhecemos principalmente de fotografias a preto e branco;, conta. ;Foi uma parceria rica em termos de processos e resultados;, completa.
A obra retrata toda a vida do escritor, desde a infância à morte. Os heterônimos, a namorada Ofélia, os amigos. Moreira acredita que a publicação da biografia em quadrinhos pode, inicialmente, atrair os leitores pelas cores e pelas imagens, mas adverte que é preciso entender que a HQ é uma forma artística com códigos próprios. ;Eles devem ser respeitados, se não a experiência de leitura pode ser prejudicada e o lado biográfico acaba por perder importância na mente do leitor;, afirma.