Diversão e Arte

Artistas mulheres ficaram de fora das comemorações do aniversário da cidade

Falta de espaço na música é geral, segundo a cantora Emilia Monteiro

Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 20/04/2016 07:30

Falta de espaço na música é geral, segundo a cantora Emilia Monteiro

Nos próximos dias 21 e 22 Brasília comemora o aniversário de 56 anos e vai celebrar recebendo importantes nomes da arte e cultura da cidade, como Móveis Coloniais de Acaju e Scalene. Entre os dias 20 e 22, o Museu Vivo da Memória Candanga receberá a mostra de cinema feminino de Brasília, com programação de filmes sobre a atuação de mulheres na capital. No entanto, enquanto acompanhamos a história de algumas delas nas telonas, o mesmo não será possível nos palcos de apresentações musicais, ponto alto das comemorações. Entre a lista de artistas convidados para o aniversário de 2016, não figura um nome feminino, fato que entristeceu cantoras, musicistas, letristas e compositoras da cidade e trouxe novamente à tona o debate da representatividade e equilíbrio entre gêneros, principalmente na cena cultural.

A cantora Emilia Monteiro, importante nome da música do Distrito Federal, ressalta que a falta de espaço pode ser percebida de maneira geral na música atualmente, para homens e mulheres. Aliado a isso está o fato de que, tradicionalmente, menos espaços são reservados às mulheres artistas. ;Fiquei surpresa e triste em saber que não teremos mulheres na programação do aniversário de Brasília. É algo que merece total atenção porque temos representantes maravilhosas e talentosíssimas fazendo arte e música de qualidade na cidade;, afirma a cantora.


Para melhorar e equilibrar o cenário artístico, Emilia acredita que a melhor saída seja continuar trabalhando, estudando e produzindo muito, sempre reforçando a união entre mulheres, artistas ou não. Além disso, a cantora ressalta que é importante questionar situações como a que se colocou no evento, sem deixar de observar a mesma questão em outras ocasiões. Vale lembrar que arte e cultura ainda não são vistas como prioridade na educação, afetando artistas de um modo geral. Como inspiração feminina da música brasiliense, com trabalhos autorais que poderiam fazer parte da programação, Emilia Monteiro destaca: Ana Reis, Chinelo de Couro, Litieh, Naiara Morena, Márcia Tauil, Cassia Portugal, Nanãn Matos, Cris Pereira e Teresa Lopes.

A cantora Litieh. Imagem: Du Lopes/Divulgação

Enquanto isso, Litieh, integrante do Coletivo do quadrado, ressalta que o espaço e incentivo são ainda menores para mulheres instrumentistas. A artista, que é cantora e toca violão, diz ter se sentido surpresa com a falta de nomes femininos na comemoração e espera que os espaços se tornem mais equilibrados, ;Em pleno 2016 e a gente ainda vê resquícios de uma forte presença da cultura machista. É algo para ficar bravo, nós temos muitas artistas maravilhosas aqui na cidade;, declara. A cantora afirma que se mostra otimista com o aumento de mulheres instrumentistas e musicistas em Brasília e que esse espaço precisa crescer cada vez mais. Como destaque da representação musical feminina da cidade, Litieh destaca Ellen Oléria. ;Eu fui ao último show dela aqui em Brasília e fiquei maravilhada com o quanto ela nos toca com o gesto, com o olhar. Foi uma performance indiscutivelmente linda, ela está tocando violão também muito bem, o que é uma inspiração para mim, já que sigo esse caminho;, afirma. Litieh aponta outros de seus nomes preferidos na música brasiliense feita por mulheres: Renata Jambeiro, Letícia Fialho, Mariana Sardinha (cavaquinhista), Ana Reis, Nãnan Matos, Tatá e Danú.

A flautista Gabriela Tunes, nome conhecido por todas as rodas de choro brasilienses, acredita que este não é um fato pontual e que muitas pautas femininas estão sendo negligenciadas pelo governo. A musicista lembra que, historicamente, a presença feminina na música e nas artes encontra dificuldades e que políticas públicas deveriam incentivar essa produção e participação delas nos palcos, equilibrando a cena cultural. A ideia é que, além do incentivo geral à criação artística brasiliense, os espaços de produção e divulgação dos trabalhos possa ser diversificado e equilibrado, privilegiando e expandindo a criação de todo tipo de artista brasiliense.

A matéria completa está disponível , para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação