Diversão e Arte

Dori Caymmi fala ao Correio sobre mergulho na obra de Mário Lago

A elegância sonora e a brasilidade herdadas do pai, Dorival, sustentam a obra desse também compositor que faz parte de uma ilustre geração de grandes nomes da MPB

José Carlos Vieira
postado em 24/04/2016 07:38
A elegância sonora e a brasilidade herdadas do pai, Dorival, sustentam a obra desse também compositor que faz parte de uma ilustre geração de grandes nomes da MPB
Poucos instrumentistas e cantores são tão respeitados no país e no exterior como Dori Caymmi. A elegância sonora e a brasilidade herdadas do pai, Dorival, sustentam a obra desse também compositor que faz parte de uma ilustre geração de grandes nomes da MPB. Nesta conversa com o Correio, Dori destaca o lançamento de Foru 4 Tiradente na Conjuração na Baiana, peça histórico-musical escrita por Mário Lago na época da ditadura e entregue ao músico pelos filhos do poeta-ator Graça Lago e Mário Lago Filho. O texto narra a resistência ao domínio português na Bahia, em 1798. À margem da história oficial, a Conjuração Baiana, ou Revolta dos Alfaiates, ou Inconfidência Baiana, entre outros nomes, revelou quatro jovens heróis negros-mestiços: Luiz Gonzaga das Virgens, João de Deus, Lucas Dantas e Manuel Faustino dos Santos Lira, que conclamavam os brasileiros à revolução. Descobertos, foram presos, enforcados e esquartejados pelo poder central em 8 de novembro de 1799. A poesia de Mário Lago e a música de Dori Caymmi se fundem num trabalho extraordinário.

>>Entrevista // Dori Caymmi

Como o texto de Mário Lago ; Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana ; chegou às suas mãos e naquando começou a se tornar música?
Fui procurado por Graça Lago, filha de Mario Lago, que me deu a honra de colocar música nesse texto desse grande brasileiro, há, mais ou menos, dois anos. Voltando para Los Angeles, eu li a peça e comecei então a musicar, baseado no que aprendi no teatro fazendo direção musical em peças, como Opinião, Gota d;agua, Calabar e Arena conta Zumbi.

Por que, na sua opinião, um momento histórico tão importante para o país é esquecido em gavetas? Temos ainda uma mentalidade colonialista? Não pensamos como brasileiros autênticos?
Ficou na gaveta porque foi escrito na época da ditadura militar e foi censurado. Eu continuo achando que nós ainda somos um país colonizado, fala-se muito em socialismo, mas os graves problemas do Brasil continuam sendo educação e saúde. Essa história, em particular, é esquecida até na Bahia, onde se passou. É tão esquecida que, no meu tempo de escola, essa revolta nunca foi mencionada, talvez por que os heróis fossem negros.

Por que o brasileiro ainda insiste que não tem em seu DNA fisiológico e cultural a porção negra? Por que o preconceito?
Olhe, eu tenho no meu DNA o sangue negro e tenho o maior orgulho disso. O racismo é uma das coisas mais odiosas que eu conheço, mas não é criando leis que proíbam o uso de palavras como ;mulato;, ;minha nega; e acusando Jorge Amado, Monteiro Lobato e Mark Twain de racistas que isso vai mudar. Infelizmente isso não é um problema só brasileiro.

Você começou a trabalhar no conceito musical para a obra e optou por arranjos suaves, refinados e carregados de emoção. Fale um pouco sobre esse processo e suas opções sonoras para ele.
O meu trabalho começa com a composição, em que o violão tem um papel muito importante na criação dos arranjos. A partir daí, eu descobri que não era necessário ser grande eloquente. O violão na própria composição, e à época em que se passa a Revolta dos Alfaiates, me levou a essa simplicidade. Só o que eu precisei foi a flauta de Teco Cardoso, a percussão do Bré e o contrabaixo do Rodolfo Stroeter.

E os convidados? Como eles foram seduzidos por esse projeto ; Milton Gonçalves, que apresenta a obra; Mônica Salmaso e Sergio Santos, entre outras figuras ilustres?
Convidei o Milton Gonçalves, que trabalhou comigo em Arena conta Zumbi, para ler o texto inicial da peça que explica a finalidade da revolta e o triste fim dos conjurados. Ninguém melhor que um grande ator brasileiro para abrir esse projeto. E eu tive então a pretensão de escolher para cada música as pessoas certas, daí Joyce, Monica Salmaso, Renato Braz, Sergio Santos, Roberto Leão, Alice Passos, Breno Ruiz, Barbara Rodrix e Mario Gil, esse que, além de cantar, foi o engenheiro de som do CD. Gostaria também de mencionar o importante trabalho de Samuka Marinho no magnífico desenho dos conjurados gentilmente cedido por ele. E o belíssimo trabalho de arte gráfica realizado e cedido por Elianne Jobim. Eu sou extremamente agradecido a todos eles pelo talento e pela generosidade.
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