Diversão e Arte

Rede do bem: Caravana Buriti leva teatro aos confins do país

Desde 1995, a Cia. Os Buriti interfere no cenário cultural de Brasília. Há 5 anos, eles passaram a levar o teatro para regiões do país onde a arte anda escassa

postado em 25/04/2016 07:35 / atualizado em 19/10/2020 15:07
Desde 1995, a Cia. Os Buriti interfere no cenário cultural de Brasília. Há 5 anos, eles passaram a levar o teatro para regiões do país onde a arte anda escassa
Aqueles que acompanham o panorama teatral do Distrito Federal certamente já esbarraram com o trabalho da Cia. Os Buriti, fundada pela pedagoga, bailarina, atriz e diretora Eliane Carneiro, um dos mais aclamados nomes das artes brasilienses. São 20 anos desde a fundação que nos presentearam com 10 espetáculos, a exemplo de Cordas e contos e O marajá sonhador e outras histórias

Nem todos, no entanto, conhecem a Caravana Buriti, um projeto itinerante que promove uma intervenção artística em escolas e regiões de pouco acesso a movimentos culturais, desde 2010. “A caravana parte da nossa vontade em aprofundar o contato com as crianças, professores e educadores sobre o papel da arte na formação educacional”, conta a atriz e diretora Naira Carneiro, filha de Eliane. 

Ao todo, a Caravana Buriti rodou mais de 7 mil quilômetros, alcançou 15 mil crianças e ofereceu mais de 400 espetáculos-oficina em 25 cidades diferentes. Além do DF, o projeto visitou escolas em Goiás e no Mato Grosso do Sul, sempre preferindo locais que costumam ser preteridos pela produção cultural, como centros urbanos considerados marginalizados, escolas rurais e tribos indígenas. 

Sobre rodas 

Os objetivos da caravana transcendem a simples apresentação de um espetáculo. “Oferecemos oficinas para os professores, na qual falamos sobre o papel da arte na educação e debatemos temas relacionados ao tema, mas também recebemos as crianças para aulas de contação de história e música, por exemplo”, revela Naira. 

A relação com cada uma das escolas costuma se estender por mais de uma semana. “Chegamos a ficar 10 dias em um único local. A ideia é estabelecer um real diálogo e um contato afetivo com aquelas pessoas. Não se trata de algo pontual, superficial. A gente espera que as lições fiquem”. 
 
Se o assunto for afeto, há muito amor envolvido com o “Carneirinho”, o micro-ônibus que carrega a companhia para todas essas cidades. “É uma casa móvel, de 1974. Já está velhinho e, de vez em quando, deixa-nos na mão no meio da estrada. Mas ele resiste”, brinca a filha de Eliane. Além de servir como transporte, o veículo faz realmente o papel de casa. Ali, a equipe dorme e descansa durante essas andanças. 

Todo esforço se justifica ao perceberem o valor das ações que estão implementando por esses confins. São muitos os relatos de superação nesses últimos cinco anos. Naira acompanhou cada um deles e compartilha duas histórias que a emocionam: “Em uma oficina de contação de histórias, uma das meninas da turma pegou uma boneca e começou a interagir. A professora da turma me disse, depois, que naquele momento, pela primeira vez, ela havia escutado a voz da aluna, que sempre se manteve calada em sala”. 

Em outra ocasião, durante uma apresentação em uma escola rural, um dos alunos passou a interferir com o enredo. “A gente abre esse espaço para que eles interajam. E esse garoto teve uma participação linda. Incorporou os personagens, atuou de verdade”. Ao final, alguns professores se aproximaram e se mostraram muito sensibilizados com o desempenho do rapaz no espetáculo. Foi quando Eliane soube que ele era um estudante “problemático”. “Era rejeitado pela mãe, tinha uma postura difícil na escola. Os professores tinham uma relação de conflito com ele”, ela recorda. A arte, de alguma maneira, o resgatou. E enquanto isso acontecer, a caravana segue. 

» Celebrações 

As duas décadas de estrada da companhia pedem uma celebração à altura. Entre os festejos, o grupo está lançando um disco para as crianças. Cantos de encontro nasce de espetáculo homônimo e traz canções autorais para encantar os pequenos espectadores. Além do álbum, a companhia revisita quatro espetáculos do repertório em uma ocupação na Funarte, a partir do próximo fim de semana: O marajá sonhador e outras histórias (2004), Cordas e contos (2007), Cantos de encontro (2012) e Blima – Imagens do sagrado (2012). A programação inclui ainda uma oficina de dança teatro com Eliane Carneiro, uma bela oportunidade de aprender com uma figura cânone da arte de Brasília.

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