Diversão e Arte

Sambas que retratam mulheres marcam nova fase menos preconceituosa

Apesar de o ato de viver o samba e cantar o samba ser predominantemente masculino, há casos de mulheres que enfrentaram as reações da sociedade da época e se destacaram como compositoras

postado em 03/05/2016 07:31
Dona Ivone Lara: uma das precursoras da composição feminina no samba na década de 1960
O ambiente do samba sempre foi marcado pela força feminina. O poder das mães de santo do Rio de Janeiro, no início do século 20, revela uma sociedade fortemente matriarcal naquela época. E era em torno delas que o batuque crescia. ;O samba Pelo telefone, um dos primeiros registros do ritmo, foi composto na casa de tia Siata, uma famosa baiana que viveu no Rio;, destaca o pesquisador e historiador Luiz Antonio Simas, que, em parceria com Nei Lopes, escreveu Dicionário da história social do samba. Ao mesmo tempo em que a mulher tem uma força matriarcal, protetora, na comunidade, muitas letras do samba de raiz eram marcadas por um viés machista, em que a mulher é colocada em condição subalterna.

Apesar de o ato de viver o samba e cantar o samba ser predominantemente masculino, há casos de mulheres que enfrentaram as reações da sociedade da época e se destacaram como compositoras. ;A letra do samba tem muita característica de crônica, também explorada pelas mulheres, e sempre foi um instrumento utilizado para retratar a realidade;, destaca o historiador.

Um dos grandes nomes que participaram dos capítulos da história feminina no ritmo é Dona Ivone Lara. Ela conquistou espaço na década de 1960, quando ganhou o samba-enredo na escola Império Serrano. Exímia compositora, Dona Ivone viveu o machismo de seu período. Muitos sambas de autoria própria eram assinados com a parceria de um sambista. ;Antigamente era o homem que validava a música. Se não houvesse a chancela do homem não teria samba. Isso, de certa forma, depreciava a mulher. O gênero musical nunca foi deslocado do contexto social. Dona Ivone só se dedicou inteiramente ao samba quando ficou viúva. O marido dela, Oscar, era reticente à participação dela no samba;, ressalta Luiz Antonio Simas.

Outras mulheres também contribuíram para mostrar o universo feminino dentro das composições, mas que foram esquecidas pela história. Caso de Carmem Silvana, a primeira mulher a conduzir um samba-enredo na avenida. Era a música Aquarela brasileira, apresentada em 1964 pela Império Serrano. Contemporânea de Carmem, a sambista Carmelita Brasil foi presidente de escola de samba Unidos da Ponte e compôs seis sambas. ;Apesar de sua grande contribuição, a história de Carmelita foi literalmente apagada da narrativa do samba. Não temos registros de suas letras;, afirma o historiador.

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