Diversão e Arte

Sylvie Debs destaca a literatura popular em novo livro

Autora é considerada uma das mais importantes estudiosas do cinema brasileiro

Severino Francisco
postado em 07/05/2016 07:38

Othon Bastos vive o Corisco em Deus e o Diabo na Terra do Sol: cordel recriado na tela

O fascínio da professora francesa Sylvie Debs pelo Nordeste veio por linhas tortuosas, ao ler os primeiro parágrafos do romance A guerra do fim do mundo, de Mario Vargas Llosa. Logo, lhe vieram à mente as imagens rascantes de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, e ela decidiu estudar e conhecer o sertão. Sylvie mergulhou no tema e fez doutorado em Toulouse sobre as relações entre cinema e literatura brasileira.

Durante a pesquisa, estabeleceu conexões entre a literatura popular e o cinema, traçando uma linha que vai de Deus e o Diabo na Terra do Sol até a animação brasiliense O lobisomem e o coronel, de Ítalo Cajueiro, passando por Viramundo, de Geraldo Sarno, O homem que virou suco, de João Batista de Andrade, O país de São Saruê, de Vladimir Carvalho, entre outros. Esse é o tema do primeiro volume da série Cinema e cordel: jogo de espelhos (Interarte e Lume filmes), em que reúne ensaios e entrevistas, que se entrelaçam para revelar a presença e as mutações da literatura popular na produção audiovisual brasileira. Nesta entrevista, ela fala sobre o caminho de descobertas que a levaram a desenhar quase que uma outra história do cinema brasileiro, a partir da narrativa fantástica do cordel.

Como se envolveu pessoalmente com o tema cordel?
Eu já tinha feito uma tese sobre cinema e sertão. Fiz viagem, entrevistei Patativa do Assaré. Certo dia, li uma frase do Glauber Rocha, na época em que estava preocupado com a temática do Cinema Novo, de que se deu conta de que a maneira mais simples de contar uma história era a literatura de cordel.

Qual o impacto de viajar pelo sertão?
O impacto maior foi encontrar o Patativa do Assaré. Como francesa, senti uma emoção muito intensa em ver um poeta recitar de cor centenas de poesias. Me remeteu ao passado europeu da Idade Média. Conheci os países árabes, quando tem uma festa, alguma pessoa começa a fazer um improvisação. Na Córsega, tem quem faz esse improviso. Quando vi, isso se conectou com a raiz francesa e mediterrânea. Fiquei curiosa de ver como essa tradição permanece tão viva no interior do Brasil. No ano passado, fui a um festival de repente e constatei o vigor da poesia popular brasileira. Eu gosto de estudar o cinema por um lado, mas aprecio ter um contato com o cordelista ou o diretor de cinema, Me interessa o laboratório, como transforma a realidade em obra de arte. Os segredos da fabricação, Por isso, o livro é constituído por ensaios e muitas entrevistas.

Como foi a abordagem da pesquisa?
Em alguns filmes de Glauber, principalmente em Deus e o Diabo na Terra do Sol e em O dragão da maldade, o modelo narrativo é o da literatura de cordel. Ele recorre à clássica chegada de Lampião no inferno. Deus e o Diabo é quase todo escrito como um cordel. Ele pediu a trilha sonora para Sérgio Ricardo, que era uma pessoa do sul, só dominava o samba. Se conheceram em uma sala de montagem. Deu para Sérgio Ricardo fitas de repentistas das feiras do Nordeste. Sérgio demorava para fazer a música. Glauber ligou para ele e Sérgio mostrou o que estava fazendo. Glauber falou: é isso, vem para o estúdio gravar. Modificou a voz para entrar no ritmo nordestino. A trilha sonora é uma beleza.

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